Peter e Day Day: o dia em que Deus levou embora nossa filha de 5 anos

Qual o maior consolo de um pai ou mãe diante de uma perda repentina e avassaladora?

Para Naw Day Day e seu marido, Peter Wong, foi exatamente esse questionamento que eles tiveram que enfrentar em janeiro de 2020, quando, sem que esperassem, sobreveio-lhes a tragédia roubando sua amada filha, Louise, de 5 anos.

Hoje, Day Day é capaz de articular a resposta com absoluta convicção e confiança: “Louise conhece ao Senhor; ela conhece Jesus”, ela disse. Day Day se recorda de Louise dizendo que Jesus foi morto por “pessoas más” (os soldados romanos) por causa dos nossos pecados e que Ele curava os doentes.

Ela também está convencida de que o Senhor preparou sua filha para o que estava por vir. De fato, apenas alguns meses antes de Louise falecer, essa alegre criança havia colorido um desenho do paraíso celestial na Escola Dominical.

É isso que está ajudando- os pais  a aceitarem terem que viver o resto restante de seus dias na terra sem a presença de sua filha.

 

O dia da tragédia

Tudo começou em 15 de janeiro, quando Louise reclamou de dores no peito e na barriga. Mais tarde ela teve febre alta. Embora preocupados, a família decidiu monitorar suas condições por um dia, conforme é habitual, antes de tomar as medidas subsequentes.

Ao final da tarde, contudo, Louise começou a ter convulsões. Foi então que Day Day reconheceu que algo estava muito errado e decidiu ligar ao marido para, sem demora, levarem a filha ao hospital.

A essas alturas, Louise ora perdia, ora recobrava a consciência. Mesmo sendo alguém que não usava com frequência as redes sociais, Day Day começou a convocar seus amigos  para orarem por Louise.

Após ter sido avaliada pelos especialistas no ambulatório de emergências, Louise foi levada de imediato à unidade semi-intensiva. Peter e Day Day começaram a clamar ao Senhor, embora seus pedidos fossem em direções distintas.

Peter, que vira seu pai num estado vegetativo antes de falecer, orou ao Senhor para que Louise ou fosse curada completamente, ou levada por Ele. O pai não queria o meio-termo para sua alegre filhinha.

Por outro lado, Day Day implorou ao Senhor que lhe desse ainda nessa terra uma segunda chance para ser mãe [de Louise]”. Ela também disse a Louise que “cuidaria dela mesmo se ela estivesse num estado vegetativo. Entretanto, se a luta fosse muito dura, estava pronta para deixá-la partir.”

As 36 horas seguintes foram uma série de altos e baixos para o casal e sentiram-se aliviados por finalmente terem um vislumbre da filha após as longas horas de espera.

“Pudemos vê-la pela janela do biombo de triagem. Ela estava deitada de lado com os olhos abertos e não piscava. Nesse momento percebi  que ela já tinha sofrido danos cerebrais, e que provavelmente não sobreviveria”, Peter disse.

Mais tarde, quando lhes foi permitido chegar perto de Louise, Peter descreveu que lágrimas escorreram pelo seu rosto quando percebeu que “o corpo dela estava gelado ao toque, e que ela estava conectada ao um respirador e monitor de sinais vitais”.

Porém, ao sentar-se ao lado do leito de Louise, Peter cantava repetidamente uma das músicas de adoração que ela, com frequência, cantava na igreja. Cantando “Com Cristo no barco tudo vai muito bem”, ele elogiava sua filhinha por sua coragem ao atravessar esse turbulento temporal. Peter também queria assegurá-la de que o sofrimento teria fim quando ela encontrasse Jesus no Céu.

“Eu disse a Louise que ela conheceria e brincaria com os apóstolos sobre os quais tinha ouvido na Escola Dominical”, disse Peter. “Era outra maneira de consolar a mim mesmo lembrando-me de que há um lugar celestial melhor além desta vida física.”

Enquanto Day Day, ainda lutava para aceitar a partida de Louise, sua súplica agora mudara. Ela pedia ao Senhor que mantivesse Louise viva até que a avó da menina (mãe de Day Day), de Mianmar, e o avô por consideração, que estava em Bangkok, pudessem vê-la uma última vez. O Senhor lhe concedeu esse pedido. Em certo momento, a pressão sanguínea da menina disparou, mas, após Peter orar ao pé da cama de Louise, ela baixou e permaneceu estável até a chegada da mãe de Day Day e do avô da menina.

Somente após isso os lábios de Louise começaram a escurecer, um sinal de que a pressão sanguínea estava caindo. E, então, eus sinais vitais sumiram da tela.

 

A perda

Louise se foi cerca de 36 horas depois de ser hospitalizada, na madrugada de 17 de janeiro. A enfermidade dela, mais tarde, foi diagnosticada como uma doença neurológica rara chamada encefalopatia necrotizante aguda (ENA), uma doença observada exclusivamente em crianças, até então saudáveis, do Leste Asiático. A ENA é caracterizada por uma infecção respiratória ou gastrointestinal e febre alta acompanhada de desmaios rápidos e convulsões.

Para piorar o luto da família, eles tiveram que adiar o funeral, pois seu segundo filho, o mais jovem, Luke, foi hospitalizado para observação preventiva, enquanto, entrementes, Day Day fora internada, em outro hospital, com o vírus H1N1.

Depois que Luke e Day Day foram liberados, um após o outro nos dois dias seguintes, a família começou as preparações para o funeral de Louise. Peter se recorda do misto de sentimentos de quando o corpo dela voltou para casa, dentro de um caixão. “Vê-la pela primeira vez foi, de certa forma, um consolo, porque finalmente ela tinha voltado para casa; mas eu estava muito triste por ela ter voltado sem vida.”

Para o velório, a família preparou uma mostra de slides de fotos de Louise com a música “What A Wonderful World” (“Que mundo maravilhoso”), cantada por Celine Dion, ao fundo. Peter relata que Louise gostava dessa música, e era também a forma como ela percebia o mundo: maravilhoso, inocente e feliz.”

Day Day sentiu que Deus tinha lhe dado três dias para descansar bem no hospital e recarregar as baterias para o momento mais doloroso por vir: o funeral.

Ela se amparou em Josué 1:9: “Esta é minha ordem: Seja forte e corajoso! Não tenha medo nem desanime, pois o SENHOR, seu Deus, estará com você por onde você andar.” e, dessa forma soube que Deus estava com Louise, assim como com a família, nessa jornada de fé e, mais tarde, esse versículo foi escrito na lápide de Louise.

 

A dádiva da vida de Louise

Agora, passados quatro meses, Day Day conta que a pior parte não foi a oração não atendida em prol da cura de Louise. Ao contrário, foi o tormento de passar por um ciclo vicioso de culpa. Day Day arrependia-se por não ter levado Louise de imediato ao médico e se indagava se podia ter feito mais para salvar a sua filha.

“Eu estava furiosa comigo mesma por não ter acreditado nela (Louise). Isso foi o mais doloroso”, conta Day Day. Foi somente depois que seu marido e sua madrinha intervieram e a lembraram da bondade de Deus, que ela pôde se desvencilhar, ainda que de forma gradual, desse processo de autoculpa.

Day Day é grata por sua filha não precisar mais sofrer. A especialista pediátrica responsável pelo caso de Louise lhes disse que nenhuma das três crianças que estiveram sob seus cuidados e que sofreram dessa doença sobreviveram. Os estudos mostraram também que não há tratamento específico ou método preventivo para combater essa doença, e que menos de 10% dos pacientes se recuperam completamente. Nos raros casos em que jovens pacientes sobrevivem, eles precisam da ajuda de aparelhos pelo restante dos seus dias.

Olhando para trás, Day Day tem a convicção de que Deus lhes deu Louise como um “bônus”, abençoando-os com sua risada contagiante pelos últimos cinco anos e dando a Luke uma irmã com quem brincar. Ela se lembra de que quando Louise nasceu, ela tinha arritmia e o cordão umbilical estava enrolado em seu pescoço. Uma cesariana de emergência salvou a mãe e a filha.

Peter concorda. Louise foi um acréscimo à rotina do novo casal. Suas memórias mais queridas são “levar Louise ao parquinho e empurrá-la o mais forte possível no balanço…e fazer cócegas nela quando ela pedia”.

Lidando com a vida após a perda

Todavia, a dor e o pesar de perder Louise ainda são fortes. “Temos tido muitas primeiras vezes, mas ao avesso: quando seu filho nasce, terá a primeira hora de vida, a primeira noite em casa” diz Peter. 

“Mas, quando Louise morreu, eu precisava lidar com uma coisa de cada vez — a primeira hora depois da morte dela, o primeiro dia, a primeira vez que acordei sabendo que ela não estava mais por perto.” 

Ele acrescenta: “Também há o dilema de tocar a vida sem a Louise e reviver esses pequenos momentos, na minha memória, de quando ela ainda estava entre nós”.

O casal agora está, devagarinho, criando novas memórias, enquanto ainda se apegam, em seus corações, aos tempos felizes com Louise.

Day Day conta que agora eles certamente são mais pacientes quando lidam com Luke. O menino de 2 anos questiona sobre o paradeiro da sua irmã mais velha, mas ainda é pequeno demais para compreender totalmente a realidade.

Apegando-se à fé no bondoso Deus bom

O casal espera que sua história, por mais que machuque o coração, traga glória a Deus e relembre as famílias de valorizarem uns aos outros, uma vez que a vida pode tomar rumos inesperados. Reconhecem que provavelmente nunca haverá respostas completas em relação ao que tiveram que passar, mas testificam sobre o consolo inabalável num momento de incompreensível pesar (Lamentações 3:32-33).

O pai afirmou: “Ainda sentimos muitas saudades dela. Para mim, pessoalmente, choro diariamente pensando nela.” Peter compartilhou sobre como esse suplício o ajudou a entender o que Deus deve ter sentido durante os momentos em que Jesus caminhava em direção ao Calvário. Mostrou-lhe em primeira mão a dor verdadeira e agonizante que é ver seu próprio filho morrer. 

Ele diz: 

“O processo é cruel mesmo, mas eu considero um privilégio inestimável vivenciar as coisas da perspectiva de Deus. Ainda não compreendo totalmente o amor de Deus, mas, depois da morte de Louise, senti a profundidade do amor verdadeiro e pessoal do Pai ao enviar Seu Filho Jesus para morrer na cruz por nós e relaciono isso a quanto eu amava a minha querida Louise.”.

O mais importante: o casal enfatizou sobre a urgência com que devemos ensinar aos pequenos a conhecer a Deus de forma pessoal.

“Nunca é tarde para apresentar Cristo a uma criança”, diz Peter. “Essa semente é de extrema importância e ela a carregará consigo ao longo de sua vida.”.

O amor do SENHOR não tem fim! Suas misericórdias são inesgotáveis. Grande é sua fidelidade; suas misericórdias se renovam cada manhã. (Lamentações 3:22,23)