Uma história de amor, dedicação e cuidado de Deus

A família é uma dádiva preciosíssima de Deus e uma grande ferramenta do Senhor para nos moldar e nos fazer mais parecidos com Ele. Neste dia especial, queremos compartilhar com você a história da Débora, esposa do Elias, colaborador do Pão Diário. É um lindo testemunho sobre como Deus transformou e fortaleceu os laços familiares com seus filhos, um deles com autismo. Confira: 

Em 2004, tivemos nossa primeira filha, Emily. A descoberta foi bastante desconfortável para mim, Débora. Para o Elias, foi uma grande alegria. Após um ano de adaptação dessa nova realidade, descobrimos que seríamos pais de mais um bebê, mais um presente de Deus: o Arthur! 

À medida que o tempo passava, percebia  que aquele bebezinho se comportava de maneira diferente, comparado à irmã. Ele estranhava algumas situações e sempre pontuava tudo de forma escrita para o pediatra que o acompanhava, que sempre dizia a mesma coisa: “Não existe criança igual à outra, cada uma reage e se desenvolve de maneira  diferente”. 

Mas, o bebê claramente não se sentia confortável no colo. Algumas fases foram  até ultrapassadas, enquanto outras foram muito lentas. Quando o Arthur completou um ano de idade, tive a certeza  daquilo que suspeitava. Ele não falava, simplesmente usava minha mão como “gancho” para pegar o que queria. Não  gostava de interagir com a irmã, que tentava sempre brincar com o irmãozinho, mas ele a ignorava. O que ficou muito evidente para mim, foi quando o peguei sentado no chão com as perninhas tipo de “chinês” balançando o corpinho para frente e para trás e acenando com as duas mãozinhas, como se estivesse dando “tchau”. Ali, minha suspeita se confirmou, sabia que seria algo relacionado com o autismo.

"Ali, minha suspeita se confirmou, sabia que seria algo relacionado com o autismo."

Desde então, pedia ao pediatra que o encaminhasse ao neuropediatra, mas ele insistia que era normal o Arthur não falar e que precisava respeitar o tempo da criança. Mas não era só a ausência da fala. A utilização das nossas mãos como gancho, o não olhar nos olhos e a vontade de ficar sozinho era, para mim, não apenas suspeitas mas sim evidências.

Nossas suspeitas se confirmaram a partir do laudo do médico, que nos aconselhou a colocá-lo em todas as terapias possíveis e imagináveis. Começamos a buscar essas terapias — todas muito distantes de nossa realidade financeira. Mas Deus nos presenteou com pessoas dispostas a ajudar. Nossos dias como família eram tensos: o menino esgotava minhas forças, eu tinha que estar atenta o tempo todo para que ele não se machucasse ou se colocasse em perigo. Ele parecia não sentir dor e não  tinha nenhuma espécie de senso de perigo. Foram dias muito difíceis para todos nós. 

Chegou o tempo de viver mais um dilema: prosseguir com a carreira profissional ou  dedicar-me às desgastantes e intensas idas às terapias. O amor que eu achava que nunca sentiria e a capacidade de cuidar de dois seres que eu pensava não ter evidenciaram-se quando entreguei minha carta de demissão. Ali percebi que Deus já estava trabalhando em mim. Graças a Deus, sempre houve uma parceria e cumplicidade entre eu e meu esposo: era uma mulher exausta, porém não sozinha. Meus filhos sempre tiveram um pai muito presente.  

"O amor que eu achava que nunca sentiria e a capacidade de cuidar de dois seres que eu pensava não ter evidenciaram-se quando entreguei minha carta de demissão."

Nossa família nos apoiou de uma maneira absurda: os primos não o excluíram — isso o  ajudou muito! Conseguimos atendimento por conta de uma fonoaudióloga, entre diversos outros profissionais, por meio de amigos e irmãos em Cristo. 

Um tempo depois, outro problema apareceu. Emily, que já se sentia rejeitada pelo irmão, não compreendia o porquê da mamãe sair todos os dias com ele e, aos cinco anos de idade, verbalizou, com muita raiva: “Mamãe não gosta de mim, só gosta do Arthur!”. Os sentimentos dela eram muito intensos para a idade que tinha. Um dia, ela assustou a psicóloga que a atendia, ao chorar muito e ameaçar se jogar da janela do consultório. Ela estava com uma angústia e insegurança imensa. Apesar de sempre ter sido uma criança prestativa, naquele momento, sentia que não era amada. 

Além das terapias, fomos desafiados a trabalhar com a fé que sempre havíamos tido, quando ficou evidente que nosso adversário queria destruir os presentes que Deus nos havia dado. As questões do Arthur e da Emily, que ocasionaram problemas de aprendizagem, minhas frustrações profissionais, minha incapacidade — tudo isso nos fez prostrar e nos render Àquele que poderia estabelecer a harmonia dentro da minha casa física e espiritual.

"...tudo isso nos fez prostrar e nos render Àquele que poderia estabelecer a harmonia dentro da minha casa física e espiritual."

Uma criança “fora dos padrões” com pais desequilibrados pode ocasionar a dissolução do núcleo familiar, não pela criança em si, mas pela falta de gestão emocional e espiritual dos pais. Não queríamos isso. Cada vez mais nos apegamos ao Criador, buscando, além da cura, o equilíbrio necessário para que a paz em meio àquela “guerra” de sentimentos e emoções fosse novamente alcançada.  

Em 2015, chegou mais um presente: a Thayla, exatamente no dia em que o Arthur completou nove anos. Deus fez mais do que pedimos ou pensamos (Efésios 3.2). Ele trouxe não apenas equilíbrio, mas também paz, harmonia e amor. Fez cair as escamas dos meus olhos em relação ao universo materno e do lar. Trabalhou e transformou minhas frustrações em motivação e disposição incansáveis para ver o bem da minha família. 

Minha filha é uma das pessoas mais disciplinadas que conheço e firme em suas convicções. Meu filho é tímido, carinhoso ao extremo e alguém em construção. Tem suas dificuldades de relacionamento, mas, em casa, temos até que pedir para ficar quieto. Meu esposo, amigo e companheiro não nos desamparou quando tudo parecia ruir. Deus tem manifestado seu amor e graça a essa família que se propôs em estar à disposição do Reino e dos outros. 

— Débora Acacia da Conceição