…Deus nos amou e nos escolheu em Cristo […]. Ele nos predestinou para si, para nos adotar como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito de sua vontade. Efésios 1:4-5

Aos 23 anos, mudei para a Inglaterra para me casar. De jovem norte-americana solteira, numa cidade de bom tamanho nos EUA, de um dia para outro, tornei-me uma mulher casada e estrangeira, numa pequena localidade inglesa. Percebi claramente o quanto o meu mundo tinha mudado, no dia em que uma mulher começou a falar comigo, enquanto eu passeava com o nosso cachorrinho. “Você é a esposa do Bert, não é? Você é canadense?” Eu tinha perdido não só a minha própria identidade, mas era apenas alguém que se casou com o filho de “Bert, o Homem da Caldeira” e tinha vindo de algum lugar do outro lado do mar.

Você não consegue permanecer anônimo numa pequena localidade onde todos se conhecem da mesma forma como se pode numa cidade . É óbvio que a notícia sobre uma nova estrangeira do outro lado do lago havia se espalhado; mas isso era tudo o que sabiam. Naquele primeiro encontro com a comunidade do vilarejo, senti-me completamente exposta e totalmente incompreendida! Mesmo que tivessem acertado o nome do meu país, não era bem assim que eu queria ser conhecida.

Há muitas coisas diferentes que identificam quem somos. Temos a nossa identidade cultural e familiar, de personalidade, educação, carreira, realizações, experiências, desejos e assim por diante. Tantos fatores se entrelaçam e nos moldam; mas construir toda a nossa identidade sobre qualquer uma dessas coisas coloca-nos numa base instável. Muitos fatores podem mudar, serem perdidos, desacreditados ou serem ultrapassados por outra pessoa. Então, qual parte de nós não pode mudar? Quem somos nós em essência?

Em nosso ser interior, cada um de nós é uma criação única de Deus; portamos a Sua imagem no nosso próprio ser. O salmista diz que Deus formou “o meu interior” e me teceu “no ventre de minha mãe” (Salmo 139:13). Mas, uma vez que depositamos a nossa confiança em Jesus, tornamo-nos algo ainda mais espantoso: “a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1:12). Talvez essa verdade seja a mais incrível — ser encontrado “em Cristo” — estarmos unidos ao Filho significa que ganhamos a Sua  posição perante o Pai, tornando-nos Seus filhos amados e “co-herdeiros com Cristo” (Romanos 8:17).

Mesmo como filhos de Deus, somos todos diferentes. Mas ser filho de Deus, antes de mais nada, é uma excelente base sobre a qual podemos construir o restante da nossa identidade. Muda o nosso status de “cônjuges” para ser “filhos de Deus que são cônjuges”. Transformam-nos de “empregados” para “filhos de Deus que são empregados”. Já não somos apenas “pais”, mas “filhos de Deus que são pais”.

João enfatizou na sua primeira carta: “Quem permanece nele não continua a pecar. Mas quem continua a pecar não o conhece e não entende quem ele é!” (1 João 3:1). Em vez de a nossa identidade como filhos de Deus apagar todos os nossos outros identificadores, na realidade acrescenta mais significado, valor e profundidade a eles. Seja o que for que eu puder ser, sou ao mesmo tempo filho de Deus. Agora, eu nunca ajo sozinho; ajo com Ele. Jamais sirvo sozinho; sirvo com Ele. Tudo pode ser feito sabendo que o meu Pai celestial está comigo e que me ajudará como qualquer bom pai procura ajudar, guiar e nutrir seus filhos.

Inevitavelmente, significa também que quando qualquer um dos meus identificadores mudar, não fico navegando sozinha em meio às mudanças que ocorrem em minha identidade; o meu Pai me ajudará. Passei de “cidadã” para “estrangeira”, de “solteira” para “casada”, de “habitante da cidade sem rosto” para uma “novata conhecida do vilarejo”. Essas foram partes enormes da minha identidade que mudaram num instante. No entanto, por mais importantes que aqueles blocos de construção possam ter sido minha identidade global, nenhum deles foi o fundamento. Essa base está na minha identidade em Cristo. Quando construo sobre esse fundamento, não importa como os blocos de construção mudam e que forma o edifício da minha vida toma, ele nunca desmoronará.  As fissuras só aparecem quando tento construir pesadamente sobre os blocos, em vez de construir sobre o fundamento sólido.

Por mais reconfortante que possa parecer ser conhecido como “pai”, “líder”, “empregado” ou mesmo por traços de personalidade como “excêntrico” ou “aventureiro”, quaisquer uma dessas coisas podem ser abaladas, rachadas, partidas ou simplesmente transformadas. Mas ser filho de Deus é uma verdade contida nas Escrituras, o que a torna eterna. Não pode mudar; não será tirada; não pode ser perdida. Mesmo que a velhice ou a doença nos faça esquecer, Deus jamais esquecerá. É o fundamento seguro sobre o qual construímos e colocamos todos os nossos outros identificadores para lhes dar maior significado, propósito e segurança.

Reflexão:

  1. Quais são os principais “rótulos de identidade” na sua vida? Ou como você se identificaria diante de alguém desconhecido?
  2. Como você quer ser conhecido?
  3. Você acha que o seu papel no dia-a-dia (trabalho, família, escola, faculdade) impacta a forma como outras pessoas o veem? De que forma? 
  4. Como demonstrar que você é um filho de Deus em tudo o que faz?
  5. Quais os principais benefícios por construir a sua vida sobre o verdadeiro fundamento, isto é: em Cristo, “somos feitos filhos de Deus”?