Os dois adventos de Cristo - Por: Charles Spurgeon

Cristo voltará para um propósito muito diferente. A primeira vez Ele veio com: “agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu”. E virá uma segunda vez para reivindicar a recompensa e dividir o despojo com o forte. Na primeira vez, Ele veio como oferta pelo pecado. Tendo sido essa oferta apresentada uma vez, não há mais necessidade de mais sacrifícios pelo pecado. Na segunda vez, voltará para administrar justiça. Ele era justo, na primeira vez que veio, mas era a justiça da obediência. Ele será justo em Sua segunda vinda com a justiça da supremacia. Veio para suportar a penalidade, voltará para obter a recompensa. Veio para servir, voltará para governar. Veio para escancarar a porta da graça, voltará para fechá-la.

O que isso tem a ver conosco?

Muitos de nós podemos partir desta Terra antes que a próxima grande exibição possa ser admirada, porém todo olho o verá. Há algumas visões grandiosas nas quais vocês não têm interesse e não as veriam se pudessem, mas todos verão Cristo. Pois todo olho o verá. Não haverá sequer um de nós ausente no dia da aparição de Cristo, portanto, todos temos interesse nesse assunto. Infelizmente, é muito triste que muitos o verão para chorar e se lamentar! Você estará entre esses?

Confira algumas diferenças e semelhanças entre as duas vindas de Cristo.

Primeiramente, ambas são vindas físicas. Cristo veio a primeira vez, não como um espírito, pois este não tem carne e osso como Ele tinha. Ele tinha uma natureza que poderia ser acalentada no peito de uma mulher, que podia ser carregada nos braços de um pai. Era tal que Ele poderia, mais tarde, caminhar por si até o Templo, que podia carregar, em Seu próprio corpo, o nosso pecado sobre aquele madeiro. Já tratamos de forma definitiva aquelas ideias tolas de alguns hereges de que a aparição de Cristo sobre a Terra foi como a de um espectro. Sabemos que Ele esteve na Terra de maneira real, pessoal e física. Todavia, não está claro para alguns que Ele virá do mesmo modo real, pessoal e físico uma segunda vez. Sei que há quem se empenhe para se livrar da ideia de um reino pessoal físico. Contudo, do meu ponto de vista, a volta e o reino estão tão intimamente ligados que, se devemos ter um reino espiritual, teremos de ter uma vinda espiritual. Cremos, e sustentamos, que Cristo virá repentinamente uma segunda vez para ressuscitar Seus santos — na primeira ressurreição —, que isso será o início do grande julgamento e que eles reinarão com Ele após isso. O restante dos mortos não viverá até que os mil anos tenham findado. Então, eles ressuscitarão de seus túmulos, ao soar da trombeta, e o julgamento deles virá e receberão das obras que realizaram em seus corpos. Cremos que o Cristo que se assentará no trono de Seu pai Davi, e cujos pés se fixarão no monte das Oliveiras, é tão pessoal quanto o Cristo que nasceu em Belém e que chorou naquela manjedoura. Cremos que o mesmo Cristo, cujo corpo foi pendurado no madeiro, sentar-se-á sobre o trono, que as mesmas mãos que sentiram os cravos segurarão o cetro, que os pés que se apressaram para a cruz calçarão os pescoços de Seus inimigos. Aguardamos o advento pessoal, o reino pessoal, a sessão judicial e o veredito de Cristo. 

Os adventos não serão menos semelhantes no fato de que ambos estarão de acordo com a promessa. A prometida primeira vinda de Cristo foi a que alegrou os primeiros a crer. “Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se.” O epitáfio inscrito na placa que cobre o sepulcro dos primeiros santos tem o texto: “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe”. E hoje cremos que Cristo virá de acordo com a promessa. Pensamos ter evidências em abundância nas palavras ditas pelos lábios dos inspirados profetas e, mais especificamente, na extasiada pena de João em Patmos. Não testificam elas que Cristo virá com certeza? Nós, agora, como Abraão, vemos o Seu dia, nossos olhos captam o esplendor vindouro, nossa alma fica fascinada com a glória que se aproxima. Os judeus aguardavam pelo Messias, o Príncipe? Nós também o aguardamos. Eles esperavam que Ele reinasse? Nós idem. De fato, o mesmo Príncipe por quem Israel agora aguarda, em toda a sua dureza de coração, é o mesmo que nós aguardamos. Eles duvidam do primeiro advento do Messias e aguardam que Ele venha como o mais belo entre milhares, o Príncipe dos reis da Terra. Salve, Israel! Nisso sua irmã gentia concorda com você, ela aguarda que Ele venha da mesma forma. E, quando Sua vinda remover as escamas dos olhos cegos das tribos de Israel, então, a plenitude dos gentios louvará juntamente com a semente de Abraão e magnificarão o Cordeiro, que uma vez foi morto e que virá uma segunda vez como o Leão da tribo de Judá. Em ambos os casos, temos em mente o advento de Cristo plenamente prometido. 

Spurgeon se refere à Igreja. No entanto, devemos afirmar, em segundo lugar, que o segundo advento de Cristo será como o primeiro no que é inesperado pela maioria das pessoas. Quando Ele veio anteriormente, havia apenas poucos que o aguardavam — Simeão e Ana, e algumas almas humildes que sabiam que Ele estava próximo de vir. Os demais sabiam daquilo que os patriarcas e profetas de sua nação haviam predito sobre Seu nascimento, mas a vaidade de seus pensamentos e a sua forma de conduzir a vida eram tão divergentes do credo no qual foram treinados que eles não se preocupavam minimamente com Ele. Os magos podiam vir do distante Oriente, os pastores das campinas próximas, mas quão pouca comoção houve nas agitadas ruas de Jerusalém, no palácio dos reis ou nas casas comerciais. O reino de Deus chegou sem que fosse notado. Em tal hora, como eles não aguardavam, o Filho do Homem veio. E agora, embora tenhamos as palavras das Escrituras para nos assegurar de que Ele logo voltará, e que tem em mãos a Sua recompensa e Sua obra diante de si, como são poucos os que o aguardam! Como é esperada e antevista a vinda de algum príncipe estrangeiro ou a aproximação de algum evento grandioso desde a hora em que foi promulgada entre as pessoas! Mas a Tua vinda, Jesus, o Teu glorioso advento, onde estão aqueles que espremem seus olhos para captar os primeiros raios do Sol nascente? São poucos os Teus seguidores que esperam a Tua aparição. Encontramos poucos homens que caminham como aqueles que sabem que o tempo é breve, que o Mestre pode vir ao cantar do galo, ou à meia-noite, ou ao raiar do dia. Conhecemos poucos discípulos amados que, com corações anelantes, iludem as horas cansativas enquanto preparam canções para te saudar, ó Emanuel! Estrangeiros na Terra, por ti aguardamos; Ó, deixa o trono do Pai nos Céus, Vem com um brado de triunfo, Senhor, E reivindica-nos como Teus. Nesta Terra, não encontramos descanso, Tampouco o amor temos avistado, Nossos olhos repousam no trono real, Para ti e para nós preparado. Senhor, aumenta o número daqueles que te buscam, e desejam, e oram, e aguardam e vigiam durante as lúgubres horas da noite em favor da manhã em que Tua volta brilhará! Ainda assim, vejam, quando Ele voltar, poderemos dizer isto: Ele voltará para abençoar aqueles que esperam por Ele, assim como fez da primeira vez. 

Mas também há esta outra semelhança, e, tendo-a mencionado, encerrarei esse primeiro ponto: Ele vem, não apenas para abençoar Seu povo, mas para ser pedra de tropeço e uma rocha de ofensa para aqueles que não creem nele. Quando Cristo veio a primeira vez, era como um fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros. Como o fogo do ourives refina a escória, assim Ele consumiu os fariseus e os saduceus; e como o sabão do lavandeiro limpa a impureza, assim Ele, conforme Malaquias 3:2, fez com aquela geração quando a condenou, como o profeta Jonas condenou os habitantes de Nínive e, portanto, condenou os habitantes de Jerusalém porque eles não se arrependeram. Do mesmo modo, quando Ele vier a segunda vez, ao mesmo tempo que abençoará o Seu povo, a Sua pá estará em Sua mão para limpar completamente a Sua eira. Aqueles que não o conheceram e não o amaram serão colocados de lado como a palha para o fogo inextinguível. Não anseie pela volta de Jesus se você não o ama, pois o Dia do Senhor será para você trevas, e não luz. 

Voltemo-nos agora para a segunda parte de nosso assunto: as diferenças entre os dois adventos. 

Na profecia de Sua vinda, da primeira e da segunda, havia uma disparidade e ao mesmo tempo uma correspondência. É verdade que, em ambos os casos, Ele vem assistido por Seus anjos, e a canção será: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”. É verdade que, em ambos os casos, os pastores que vigiam sobre seus rebanhos, até mesmo durante a noite, estarão entre os primeiros a saudar com seus olhos sem descanso. Benditos os pastores que viram o Cristo envolto em faixas e, portanto, verão o Grande Pastor quando Ele voltar. No entanto, quão diferente será Sua volta. 

Na primeira vez, Ele veio como um infante, medindo cerca de um palmo; agora o Glorioso voltará — envolto em um arco-íris e nuvens tempestuosas. Primeiro, veio por meio de uma manjedoura, agora Ele ascenderá ao Seu trono. Da primeira vez, sentou-se no colo de uma mulher e aquietou-se sobre seu peito, agora toda a Terra estará a Seus pés, e todo o Universo estará sobre Seus ombros eternos. Primeiro, apareceu como uma criança, agora como o infinito. Em Sua primeira vinda, Ele nasceu em um contexto perturbado, assim como as fagulhas voam no ar; da próxima, virá em glória, como o relâmpago desde uma extremidade do céu à outra. Um estábulo recebeu o bebê, agora as elevadas abóbodas da Terra e do Céu serão pequenas demais para Ele. Os bois foram Sua primeira companhia; no futuro, as 20 mil carruagens divinas, com miríades de anjos, estarão à Sua mão direita. Seus pais terrenos ficaram felizes, em sua pobreza, ao receber as ofertas de ouro, incenso e mirra; mas agora, em esplendor, diante do Rei dos reis e Senhor dos senhores, todas as nações se dobrarão, e os reis e os príncipes farão reverência a Seus pés. Ainda assim, Ele não necessitará de qualquer coisa das mãos deles, pois poderá dizer: “Se eu tivesse fome, não to diria, pois são meus todos os animais do bosque e as alimárias aos milhares sobre as montanhas”. “…sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo”. O mundo pertence ao Senhor e tudo o que nele se contém. Não haverá meramente uma diferença em Sua vinda, mas uma distinção ainda maior e aparente em Sua pessoa. 

Ele será o mesmo, de forma que conseguiremos reconhecê-lo como o Homem de Nazaré, porém, ó quão diferente será! Ele é o mesmo, ainda assim quão mudado! Vocês que o desprezaram, desprezá-lo-iam agora? Imaginem que o Dia do julgamento chegou, e permitamos que este grande público aqui represente a reunião daquela última manhã terrível. Agora, vocês que desprezaram a Sua cruz, aproximem-se e insultem Seu trono! Seus inimigos comerão o pó. 

Digo que Cristo vem para ser tratado de modo muito diferente do tratamento que recebeu anteriormente. A primeira vez Ele veio com: “agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu”. E virá uma segunda vez para reivindicar a recompensa e dividir o despojo com o forte. Voltará não para redimir, mas para julgar; não para salvar, porém para pronunciar a sentença; não para chorar enquanto convida, mas para sorrir enquanto retribui; não para estremecer em Seu coração enquanto pronuncia a graça, senão para fazer os outros tremerem enquanto Ele proclama o destino deles. Ó Jesus, como é grande a diferença entre a Tua primeira e segunda vindas! 

O que isso tem a ver conosco? 

Essas verdades têm algo relacionado a cada um de nós, desde o idoso até à criança, que ouve com um olhar maravilhado diante do pensamento de que Cristo voltará e todo olho o verá. Há alguns espetáculos cuja contemplação é reservada a poucos dentre os homens, mas todo olho verá Cristo voltando. Infelizmente, é muito triste que muitos o verão para chorar e se lamentar! Você estará entre esses? Não, não olhe ao redor para os que o cercam — você estará entre esses? Lamento por você! Com certeza estará entre eles se, aqui na Terra, nunca chorar por seus pecados. Se não prantear por seus pecados na Terra, lamentá-los-á naquele dia e, preste atenção, se você não correr para Cristo e confiar nele agora, deverá fugir dele e ser amaldiçoado por Ele quando aquele dia chegar. 

Enquanto esperamos pela volta Jesus, que anunciemos as Suas boas-novas e a Sua justiça para que todos possam conhecê-lo!

Sermões de Spurgeon sobre a segunda vinda de Cristo

Artigo retirado do livro

Sermões de Spurgeon sobre a segunda vinda de Cristo

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