O Espírito de Deus usa nossas habilidades para nos orientar — Um ano com as mulheres da Bíblia

Jope era um dos portos em operação mais antigos do mundo. Foi neste porto que Jonas, no Antigo Testamento, embarcou num navio cargueiro que o levaria para tão longe quanto possível da vontade de Deus (Jn 1.3). É em Jope que encontramos uma mulher conhecida por dois nomes: Tabita e Dorcas. O primeiro era seu nome em aramaico, porque essa era a língua falada em Israel. Mas Lucas, autor de Atos dos Apóstolos, a chamava por seu nome grego, Dorcas. 

Dorcas usava sua habilidade como costureira para vestir os necessitados. Quando ela inesperadamente morreu, vemos que o cenáculo estava cheio de viúvas “que choravam e lhe mostravam [a Pedro] os vestidos e outras roupas que Dorcas havia feito para elas” (At 9:39). Essa mulher agia. Ela se preocupava com as necessidades práticas daqueles que eram pobres demais para se autossuprir.

Ela segurava uma agulha de costura em sua mão e, em seu coração, uma profunda preocupação e compaixão pelos pobres e pelas viúvas em Jope. Usando suas habilidades e sua compaixão, o Espírito de Deus a guiou diretamente a uma oportunidade para tratar de um problema sério em sua comunidade.

No entanto, voltemos à sua morte inoportuna. Lucas relata essa cena dramática em Atos 9.37-43. E observe o resultado: Dorcas não apenas foi restaurada à vida, mas a notícia desse milagre se espalhou por toda Jope, e “muitos creram no Senhor”.

É claro nesse texto que o compromisso de Dorcas com as necessidades das viúvas não era um hobby de meio-expediente. Ela sabia que fornecer vestimentas para os necessitados lhe permitia cumprir o ensino de Jesus: “quando fizeram isso ao menor destes meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25.40). Dorcas era uma mathetria (ávida aprendiz) genuína, uma ávida e entusiasta discípula que praticava tudo o que aprendera de Jesus.

Pelo fato do texto nunca mencionar um marido, alguns especulam que Dorcas fosse viúva, mas não podemos confirmar isso. Outros especulam que ela teria sido pobre, mas isso é improvável. Ela possuía uma casa com um cenáculo, algo que somente uma pessoa rica poderia arcar. Se fosse pobre, seria pouco provável que ela tivesse os meios para obter os tecidos com os quais confeccionava as roupas.

É possível que o lar de Dorcas tenha sido um lugar de reunião para a igreja local, embora isso não seja dito em Atos. O texto nos diz que ela era muito bondosa para os necessitados, talvez até dando-lhes mais do que só roupas confeccionadas. Com seu coração amável e seus ouvidos atentos, ela, com certeza, deu-lhes a dignidade e o respeito que outras pessoas da comunidade provavelmente lhes negavam. Seja o que for mais que ela lhes tenha dado, sempre foi fruto de sua habilidade de costurar que, de forma tangível, serviu à comunidade.

Podemos dizer que Dorcas conhecia a vontade de Deus para sua vida pela habilidade de suas mãos — ela era claramente uma costureira dotada. Contudo, reconhecer as suas habilidades com uma agulha é só uma “pontinha” do exemplo que ela representa para nós. Dela, também aprendemos duas informações necessárias que nos auxiliam a discernir como o Espírito de Deus nos orienta.

Além de sua habilidade, Dorcas se preocupava profundamente com a sua comunidade. Ela tinha paixão por atender às necessidades deles. As agulhas em suas mãos significavam também o interesse profundo e vigoroso pelas mulheres e crianças que tremiam de frio sem roupas adequadas.

Dorcas também estava num lugar onde as necessidades de sua comunidade eram óbvias. Com tantos homens sendo perdidos no mar a cada ano, as viúvas e órfãos de Jope não podiam ser ignorados. Ela não precisaria passar muito tempo vagando ou discernindo o que Deus poderia querer que ela fizesse. A responsabilidade de fazer algo que aliviasse o sofrimento daqueles que a cercavam era inevitável.

De volta ao cenáculo cheio de viúvas aos prantos, não nos surpreende que o Espírito de Deus guiou Pedro enquanto ele chamava Dorcas de volta à vida para o benefício daqueles de quem ela cuidava. Não foi um milagre apenas para que houvesse um milagre. Foi uma ação específica de Deus para o bem da comunidade à qual Dorcas ministrava altruisticamente.

Deus chama cada uma de nós a nos preocuparmos com os marginalizados — os pobres, os incapacitados, os idosos, os sem-teto e as crianças sem família — e a cuidar deles. E, quando fazemos dos interesses de Deus os nossos, demonstramos o coração do Pai àqueles que nos cercam.

O Espírito de Deus pôde orientar Dorcas porque ela tinha uma habilidade, tinha compaixão e oportunidade. Atualmente, temos uma gama de oportunidades muito maior do que as mulheres na Palestina do primeiro século. Mas as perguntas que devemos nos fazer ainda são as mesmas: O que Deus pôs em minhas mãos? Em seguida: Como estou usando isso? Duas pessoas não responderão a essas questões da mesma forma. Uma mulher pode ter um treinamento especializado que a capacita para trabalhar num campo que atenda às necessidades humanas. Outra pode possuir uma tigela, uma frigideira e um bom fogão. O Espírito de Deus a orienta para que use sua habilidade culinária com o propósito de alimentar os necessitados. Para outras ainda, pode ser um bom carro e disponibilidade de tempo para levar os fisicamente incapacitados ou seus vizinhos idosos para um mercadinho ou a uma consulta médica.

À medida que você olha ao redor, quais carências enxerga? O que Deus pôs em suas mãos que poderia ajudá-la a atender essa necessidade? Quando as suas habilidades, sua paixão e as oportunidades se unem, você pode prosseguir com confiança.

O Deus que a criou a capacitou de forma singular para conhecer e cumprir a Sua vontade. Você não precisa se preocupar em identificar essa vontade divina. Suas habilidades e suas paixões concedidas por Deus abrirão portas de oportunidades para que você sirva de maneira que honre o Senhor. É essa a vontade de Deus para a sua vida.

O que Deus colocou em suas mãos?

Um ano com as mulheres da Bíblia

Artigo retirado de trechos do livro

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