Sicar era uma cidade minúscula, poeirenta e sonolenta, basicamente uma mancha grande na estrada e um ponto microscópico no mapa. Poderia ter sido um local de parada a caminho de outros lugares, mas a maioria das pessoas não parava ali. Os judeus evitavam Sicar tanto quanto a praga, porque Sicar ficava em Samaria e Samaria era repleta de samaritanos. Eles eram os “outros”, a “meia-raça”, nem totalmente judeus e nem totalmente gentios, mas totalmente odiados por ambos. Sicar era um bom lugar para um samaritano se esconder e evitar o mundo exterior. Até Jesus chegar. Jesus poderia ter passado ao largo de Sicar. A maioria das pessoas fazia isso. Ele poderia ter cancelado a Sua parada para descanso. A maioria das pessoas teria feito isso. Porém, Jesus tinha uma missão — que envolvia Sicar e a sua residente mais infame.

Nós a conhecemos como a mulher samaritana. Essa é a única maneira como o Novo Testamento a identifica. Provavelmente, tinha outros rótulos conferidos a ela pelo povo da cidade: Adúltera. Destruidora de lares. Fracasso. Prostituta. Porém, Jesus a conhecia como: Amada. Valorizada. Preciosa. Filha. Foi a essa filha que Jesus estendeu Seus braços muito intencionalmente. Um judeu puro falar a um samaritano impuro — pior ainda, um homem falar a uma mulher — isso seria no mínimo chocante e teria provocado a situação “Você está falando comigo?”. Contudo, Jesus estava mais preocupado com a alma dela do que com preservar as aparências. Ele fez o que ninguém faria ao estender os braços a alguém a quem ninguém estenderia. Ele lhe falou com bondade. Olhou nos olhos da mulher e fez perguntas que despertaram seu coração. Ele foi cativante, persuasivo e verdadeiro. E a direcionou para algo que, de uma vez por todas, satisfaria a sua sede aparentemente insaciável. 

Jesus lhe disse: “…Quem bebe desta água logo terá sede outra vez, mas quem bebe da água que eu dou nunca mais terá sede…” (João 4:13,14). 

Nós atravessamos Sicar todos os dias. O lugar pode não ter esse nome e pode não se parecer com aquele, mas, não obstante, é Sicar. Evitada pelas massas religiosas, Sicar é o lar dos que foram humilhados e proscritos como impossíveis de amar, irredimíveis e detestáveis. O motivo de os religiosos odiarem Sicar é por estar repleta de pessoas do “eu primeiro”. Elas vivem para o seu próprio prazer, buscando significado e satisfação no lugar mais vazio de todos. Elas vão de experiência em experiência e de um beco sem saída para outro, tentando descobrir o que as faz felizes, mas, no fim, nada obtêm. 

Para muitos de nós, isso parece triste. Nós nos entristecemos ao ver pessoas que não conseguem colocar a vida em ordem. Afinal de contas, por que elas não conseguem ver para onde essa estrada leva? O que será necessário para fazê-las despertar? Por que elas não são capazes de colocar a vida em ordem e serem mais semelhantes a mim? É triste, sim. Porém, não da maneira como pensamos. Não é do seu estilo de vida que devemos ter mais pena, mas, em vez disso, das expectativas farisaicas que nós temos de pessoas “não semelhantes a nós”. 

Quando vemos as pessoas como impedimentos à missão em vez de as vermos como a própria missão, fracassamos como cristãos e fracassamos como igreja. Quando nós, à maneira farisaica, inflamos o nosso ego com o viver corretamente, em vez de nos lembrarmos da vergonha de nosso passado e da permanente quase depravação do nosso coração, nos posicionamos como um povo que nada quer ter a ver com os pecadores de Samaria. 

Porém, era para os pecadores que Jesus se dirigia e o Senhor veio a nós quando éramos pecadores. E é aos pecadores que Ele nos convoca a ir. 

Com base na história da mulher samaritana, penso que podemos extrair quatro exemplos de como Jesus entrou na vida dela e de como nós podemos ser eficazes em atrair pessoas ao evangelho.

  1. Jesus foi intencional. A conversa com a mulher samaritana não foi um erro. Jesus sabia exatamente o que estava fazendo e manteve o foco em Seu objetivo. Ele viu uma mulher ferida e sabia que podia curá-la. Assim, a despeito de pôr em risco Sua reputação, Ele foi em frente com o relacionamento. Para alcançá-la, Jesus deixou de lado as exigências de Seu tempo e as multidões que o esperavam. Sou tentado a ver aquele encontro com a mulher de Sicar como uma interrupção na agenda de Jesus. Mas não, ela era o foco da agenda de Jesus. Nós procuramos as pessoas que precisam ouvir o evangelho? Nossos relacionamentos são marcados por propósito intencional ou por banalidades sem objetivo?
  2. Jesus foi relacional. Jesus não a viu como um projeto. Ela era uma pessoa real com um passado, sofrimentos e necessidades. O Senhor dedicou tempo a conhecer aquela mulher e sua história. Ele não estava com pressa. Ele não a incluiu em Sua agenda à força. Ele não balbuciou nervosamente uma fala preconcebida com frases de transição memorizadas. Jesus simplesmente escolheu falar a uma mulher que os outros haviam esquecido ou repelido. Ele fez perguntas e procurou estabelecer uma ligação. Nós vemos os encontros evangelísticos como algo que “temos de fazer” ou como algo que “fazemos”? Compartilhamos o evangelho marcando mais um traço em nossa contagem ou ajudando alguém a dar seu próximo passo de fé?
  3. Jesus expôs a falácia de cosmovisão dela. Começando pela sede física e avançando para a sede emocional e espiritual da mulher, Jesus tangeu gentilmente as áreas em que ela havia colocado a sua identidade. Ele a ajudou a ver que aquilo pelo que ela ansiava nunca seria satisfeito nos lugares onde ela estava buscando paz. Ao indicar a idolatria dela, Jesus a fez lembrar de que todos os encontros, todas as tentativas de amor a haviam deixado vazia. 

Nós somos capazes de maneira bondosa, porém direta, ajudar pessoas a verem os ídolos que elas mesmas construíram? Quando o fazemos, elas se sentem como se estivéssemos contra ou a favor delas? Estamos suficientemente sintonizados com os que nos rodeiam para identificar quais são essas falsas cosmovisões?

  1. Jesus a restaurou com a verdade do evangelho. O que eu amo nessa história é que Jesus não deixou a mulher da maneira como tantos outros a haviam deixado: ainda buscando, ainda vazia, ainda despedaçada. Não — Ele a direcionou para outra realidade, a ideia de que tudo que ela buscava poderia ser encontrado nele. Ele era aquele que nunca a deixaria ou abandonaria. Eu imagino que, àquela altura da vida dela, Jesus fora o único homem que não quis usá-la. Em vez disso, Ele a abençoou.

Ele foi o primeiro que não baseou a identidade dela em suas ações, mas sim nas dele. Quando nós direcionamos pessoas à esperança, estamos lhes dizendo para fazerem melhor? Esforçarem-se mais? Serem mais espirituais? Ou às estamos lembrando da incapacidade do coração humano de ser suficientemente bom? Estamos direcionando as pessoas à esperança duradoura que Jesus oferece?

Texto extraído e adaptado do livreto “Errando a Missão?”, de Danny Franks.

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