Em hebraico, o nome do profeta Miqueias é apenas Michah, o que, provavelmente, é uma abreviação ou um encurtamento de um nome. Michah pode ser parte da composição do nome “Michael”, cujo significado é “aquele que é como Deus”, e que dá origem ao nosso nome “Miguel”. Ou, também pode ser Michaia, cujo sentido é “quem é como Jeová”, ou “aquele que é como Jeová”. No caso do profeta, acredito tratar-se de uma abreviação de “Michaia”, por essa razão tornou-se Miquéias em português.

Antes de entrarmos no estudo do livro propriamente dito, eu gostaria que você imaginasse comigo certas situações, algumas das quais é possível que você já tenha vivenciado. Imagine que você tenha alguns exames médicos importantes para fazer, por apresentar sintomas que levantam suspeitas com relação à sua saúde. É natural, nessa situação, você trazer certo receio de um diagnóstico desfavorável e então, no seu íntimo, pensar: “Deus me livre!” Quando você pensa na possibilidade de passar por um acidente de carro, ou de passar pela experiência de um assalto, é normal pensar ou exclamar algo como: “Deus me livre!” Sempre que vislumbramos uma ameaça ou crise, nós naturalmente desejamos que Deus nos livre. Por vezes, o Senhor realmente nos livra dessas situações. Entretanto, nós encontramos irmãos em Cristo que têm diagnósticos ruins, são assaltados, sofrem acidentes, perdem seus empregos, entre outros exemplos, e isso é algo que, eventualmente, acontece com cada um de nós.

Observe o que Miqueias diz no seguinte versículo: “Ouçam, ó montes, a acusação do Senhor; escutem, alicerces eternos da terra. Pois o Senhor tem uma acusação contra o seu povo; ele está entrando em juízo contra Israel” (6:2). Eles estavam sendo convocados pelo próprio Deus para um julgamento no tribunal divino. Se ouvíssemos algo assim, será que nossa primeira reação não seria falar: “Deus me livre”? O profeta também diz: “Ouçam, todos os povos; prestem atenção, ó terra e todos os que nela habitam; que o Senhor, o Soberano, do seu santo templo, testemunhe contra vocês” (1:2). Miquéias, em seu livro, traz uma perspectiva de que Deus é, ao mesmo tempo, testemunha, promotor e soberano juiz na acusação que tem contra Israel e Judá, por causa de certa culpa que eles têm. Ele se concentra na realidade de quem é o juiz, pois sabe que isso muda por completo o cenário. Só de considerar a ideia de ter Deus como meu acusador, ou testemunha de acusação contra mim, já me faria dizer: “Deus me livre!”. O acidente de carro, o assalto, a perda do emprego ou a notícia ruim não são nada perto dessa possibilidade.

O livro de Miqueias é um livro que, continuamente, trata com a culpa real do povo, até chegar ao ponto de Deus dizer: “Basta, chegou a hora do juízo!” Ainda no capítulo primeiro, veja o que ele descreve: “Pois a ferida de Samaria é incurável; e chegou a Judá. O flagelo alcançou até mesmo a porta do meu povo, até a própria Jerusalém! Não contem isso em Gate, e não chorem. Habitantes de Bete-Ofra, revolvam-se no pó. Saiam nus cobertos de vergonha, vocês que moram em Safir…” (vv.9-11). Ele cita uma série de nomes para descrever o que é o juízo de Deus. Bete-Ofra, por exemplo, já era uma cidade conhecida por sua poeira, pois Ofra, em hebraico, significa “casa do pó”. Mesmo assim, o profeta diz que eles se revolverão no pó. Quando se dirige aos habitantes de Safir, que significa agradável e prazerosa, ele diz que andarão nus na cidade, isto é, terão a marca da vergonha. Seria algo semelhante a se, no Brasil, Deus nos desse um juízo específico e dissesse: “Porto Alegre, muitas lágrimas correrão no rosto de vocês!”; “Curitiba (que em tupi-guarani significa pinheiral), suas árvores serão derrubadas!”; “Salvador, não há salvação para vocês!”; “Fortaleza, seus muros serão derrubados!”. Toda a mensagem de Miquéias é uma comunicação da indignação de Deus com o Seu povo, e de derramamento de justiça e juízo sobre eles. Uma situação como essa pode trazer muitas perguntas, dúvidas e incertezas, no entanto, existem duas certezas que podemos e devemos ter.