3. LER E APLICAR. 

O que quero dizer é apenas isso. Não leiam a Bíblia como um livro para outras pessoas. Não a leiam meramente para dizer “Sim, ela é verdadeira. Muito verdadeira. Acredito que suas doutrinas são a revelação da mente infalível do próprio Deus”. Tentem também ler uma página das Escrituras, sempre para ver o quanto ela diz respeito a você. Para alguns de vocês, há muito pouco na Palavra de Deus a não ser ameaças. Orem para que Deus os ajude a sentir a gravidade até mesmo das ameaças, porque, se as sentirem profundamente agora, poderão ser, aos poucos, libertos do trágico cumprimento delas depois! Se vocês forem levados a tremer sob a Palavra de Deus, talvez nunca terão de tremer sob a mão de Deus. 

Se vocês sentirem agora a ira vindoura, talvez nunca terão de senti-la no mundo porvir. Peçam a Deus que as Suas ameaças possam afastá-los de seus pecados e levá-los a buscar o perdão em Cristo. Então, quando lerem descrições do coração humano e da Queda, a corrupção e a depravação da nossa natureza, vejam-se como diante de um espelho e digam de si mesmos ao ouvirem sobre seu pecado: “Eu sou um homem como esse era e, mesmo que não caia exatamente no mesmo pecado, a possibilidade e o perigo dele estão em meu coração e eu poderia cometê-lo, se não fosse pela graça restritiva de Deus”. Levem as mesmas histórias ao seu coração e encontrem nelas um significado, seja de encorajamento ou de advertência a vocês mesmos. Quanto às doutrinas, lembrem-se de que a doutrina mata, exceto quando entendida pessoalmente e à medida que vocês se interessarem por ela. Conheci algumas pessoas que se regozijam enormemente na doutrina da eleição, mas nunca foram eleitas, e algumas que muito se agradaram da doutrina da justificação pela fé, mas não tinham fé pela qual pudessem ser justificadas! 

Conheci também algumas que se gloriavam da perseverança final, mas se tivessem perseverado até o fim, certamente estariam no inferno, porque estavam a caminho dele! Uma coisa é conhecer essas verdades de Deus, e até mesmo lutar por elas com o zelo e a mordacidade de um polemista, mas outra é apreciá-las como nossa própria herança e nossa porção para sempre! 

Peçam ao Senhor para lhes mostrar o seu interesse em todas as verdades e não se satisfaçam até terem um garantido interesse pessoal por elas! Especialmente, que seja assim com as promessas. “Não o deixarei; jamais o abandonarei.” Bem, é uma ótima promessa, mas se me for lida assim: “Não o deixarei; jamais o abandonarei”, que promessa transformada e glorificada ela se torna! O velho e forte Martinho Lutero costumava dizer: “Toda religião vital está nos pronomes pessoais e possessivos”. Não é assim? “Quando passar por águas profundas, estarei a seu lado. Quando atravessar rios, não se afogará.” Ó, verdadeiramente, tal promessa é como um cacho de uvas de Escol, mas ele está no vale de Escol e não consigo alcançá-lo lá! A promessa aplicada é o cacho trazido a mim exatamente onde estou, e eu posso recebê-lo e me deliciar com a sua suculenta doçura!

Tomem o cuidado, porém, de buscar a aplicação dos preceitos. Algumas pessoas estão sempre atentas ao dever das outras e são ótimos juízes e críticos do que os outros devem fazer. “Quem são vocês para condenar os servos de outra pessoa?” Para seu próprio senhor ele está de pé ou cai. Vejam vocês mesmos quais preceitos se aplicam e então, como filhos de Deus, sejam seus pés rápidos para correr no caminho dos Seus mandamentos. Leiam a Bíblia como um homem lê o testamento de seu parente — para encontrar qual legado há ali para si mesmo. Façam com a Bíblia como o doente faz com a receita do médico — sigam-na fazendo pessoalmente o que ela lhes ordena. Peçam a Deus que não deixe sua Bíblia ser a Bíblia de outro homem, mas a sua própria Bíblia — a própria boca de Deus falando à sua alma sobre as coisas que trazem a sua paz.