Como enfrentar tempos de adversidade — Um ano com as mulheres da Bíblia

Após tomarem posse de Canaã, os israelitas rapidamente deram as costas ao Senhor e aderiram a práticas pagãs das nações vizinhas. De tempos em tempos, líderes devotos despontavam no cenário e traziam o povo de volta ao seu Deus. Porém, na maior parte do tempo, o povo estava afastado do Senhor.

 

Então vieram os grandes reis de Israel — Davi e Salomão. Sob sua liderança, a nação se expandiu, enriqueceu e ficou mais forte. Após a morte de Salomão, entretanto, as tribos se dividiram em duas nações: Israel, ao norte, e Judá, ao sul. O povo do Norte logo deu as costas à adoração ao Senhor e se voltou à adoração de ídolos pagãos.

 

Nossa história começa durante o período de um rei do Norte chamado Acabe. Ele foi considerado o pior rei de Israel em termos de práticas pagãs. Acabe casou-se com uma princesa estrangeira chamada Jezabel que introduziu a adoração a Baal em Israel.

 

Elias, o profeta de Tisbe, era de Gileade, a leste do rio Jordão. Na primeira vez que o vemos ele está levando um recado de Deus para Acabe. Não sabemos como ele conseguiu entrar no palácio em Samaria, nem o que o rei falou ao ouvir as palavras do profeta, ou se Jezabel estava presente. Apenas escutamos a profecia de Elias. Então o vemos seguir as instruções de Deus, saindo do palácio e seguindo para um esconderijo ao leste do Jordão, perto da torrente de Querite. Deus cuidou do profeta, enviando corvos com pão e carne todas as manhãs e tardes. Ele sobreviveu com a água da torrente, até que ela “secou, pois não caía chuva em parte alguma da terra” (1Rs 17.7).

 

A ordem divina, a seguir, parecia estranha: ir para Sarepta, um vilarejo ligado à grande cidade de Sidom. Era um tipo de subúrbio da cidade natal de Jezabel. Elias estava escondido para evitar a ira de Acabe e Jezabel. Morar perto dessa localidade lhe parecia muito arriscado. Mas essa era a estratégia de Deus para o profeta.

 

É também estranho que Deus lhe tenha prometido que uma viúva cuidaria dele. Deus raramente faz uma coisa de cada vez. Ele não estava cuidando apenas de Elias. O passo seguinte do profeta, também envolvia a forma como Deus cuidaria de uma viúva pobre numa terra estrangeira. Quando as coisas que não fazem sentido acontecem, é provável que não compreendamos quantos projetos complexos Deus está tecendo, agindo não apenas em nossa vida, mas também na de outros. 

 

Elias saiu a pé para Sarepta, a cerca de 160 km. Se Acabe e Jezabel já tinham oferecido um preço pela cabeça do profeta, ele provavelmente fez essa viagem por estradas secundárias e caminhos montanhosos raramente usados.

 

Quando chegou perto da cidade de Sarepta, Elias viu uma viúva apanhando gravetos. Não há menção de nome. Nenhum detalhe é fornecido sobre a idade dela, aparência ou situação na vida. Era apenas uma viúva apanhando os gravetos. E, sem dúvida, ela se assustou quando um homem estranho a chamou e pediu que lhe desse água para beber.

 

Observe que Elias sofria com a seca da mesma forma que o maligno rei Acabe. Poderíamos pensar que aquilo afetava apenas as pessoas más, e que as boas eram poupadas do sofrimento. Mas, não é assim. Vivemos num mundo decadente contaminado pelo pecado. Todas nós temos que conviver com as consequências de um mundo decaído. Todas vivenciamos coisas ruins que acontecem porque pessoas más tomam decisões ruins. Elias sofria. A viúva sofria. Milhares de pessoas sofriam porque Acabe abandonara o seu Deus e introduzira a adoração a Baal em Israel.

 

Agora essa viúva enfrentaria um teste de fé. Ela era estrangeira e provavelmente não crescera ouvindo sobre o Deus de Israel. Naquele momento, precisaria decidir se acreditava na palavra de Deus por meio desse estranho fazendo o que ele solicitava, ou se ele era louco e ignoraria seu pedido.

 

A viúva poderia concluir que ela e o filho morreriam de qualquer forma, então dividiriam aquele pouco que tinham com um estranho necessitado. Ou também pode ter sentido um forte ímpeto em sua alma de que o Senhor, o Deus de Israel, havia enviado esse profeta até ali. Naquele tempo, abrigar um profeta era uma grande honra. Ou pode ter se apegado à promessa de que, se desse o que tinha, o Deus de Israel cuidaria das necessidades que tivessem enquanto durasse a seca. Seja o que for que tenha acontecido, ela estava disposta a apostar sua vida e a de seu filho naquela palavra.

 

Algumas vezes, quando estamos contra a parede, precisamos decidir se obedeceremos às Escrituras ou faremos o que parece ser o melhor para nós. Isso é real, especialmente para mulheres sozinhas. Com frequência, os recursos são poucos e as necessidades grandes. Talvez precisemos atravessar os 31 dias do mês com um salário suficiente para 21 dias. Quando Deus nos pede para ir além e dividir o pouco que temos com alguém que precisa ainda mais, pode ser difícil obedecer.

 

Da próxima vez que você estiver tentada a ignorar a Palavra de Deus e optar pela autoproteção, lembre-se da viúva de Sarepta. O que teria acontecido a ela e a seu filho naquele dia se tivesse se recusado a obedecer a Palavra do Senhor?

 

Esse não é o final da história. No primeiro momento com Elias, essa viúva foi testada na área de suas necessidades imediatas: comida para a próxima refeição. No segundo incidente, estava sendo testada com relação ao seu futuro: seu filho estava lhe sendo tirado. Esse era o rapaz que cuidaria dela em sua velhice, que a sustentaria quando ela não pudesse mais fazê-lo. Seu futuro dependia dele. E agora ele havia morrido.

 

No primeiro teste, ela precisou tomar uma decisão e agir. No segundo, não havia decisões a tomar. Nada havia que pudesse fazer. Estava totalmente impotente diante dessa tragédia.

 

Contudo, Deus não a havia deixado sem recursos. Ela tinha a presença do Senhor na pessoa de Elias, o profeta de Deus. E Elias intercedeu pela viúva quando ela não tinha mais aonde recorrer. O Senhor ouviu a oração do profeta e restaurou a vida do filho daquela viúva.

 

Deus não costuma suprir as nossas necessidades com milagres óbvios. Mas o fato de não vermos um profeta como Elias, ou vivenciarmos intervenções sobrenaturais dramáticas, não significa que Deus não esteja preocupado com a nossa vida e nossas necessidades.

 

Você percebeu o que aconteceu com a fé dessa viúva? No versículo 12, ela disse “o SENHOR, seu Deus”. Não era o Deus dela. Mas de alguma forma, ela teve fé suficiente para agir a partir da declaração de Elias de que o Senhor proveria para eles todos os dias enquanto a seca durasse.

 

Entretanto, quando seu filho morreu, a viúva acusou Elias de vir para lembrá-la de algum pecado do passado e para puni-la, tirando-lhe o filho. Chamou-o de mensageiro da vingança de Deus. Ela realmente não entendia que ele era também um mensageiro do amor do Senhor por ela.

 

Suas necessidades imediatas foram cuidadas e seu futuro foi garantido quando seu filho voltou à vida. Então, a viúva fez a seguinte declaração de fé que fecha o capítulo 17: “Agora tenho certeza de que você é um homem de Deus, e de que o SENHOR verdadeiramente fala por seu intermédio!”.

 

Se essa mulher nunca tivesse sido provada, sua fé não teria crescido. Sua compreensão de quem Deus é não teria avançado. Teria continuado ignorante e incrédula.

 

É por meio das terríveis provas da vida — testes nos quais precisamos tomar decisões difíceis e vezes nas quais não temos decisão alguma a tomar — que a fé cresce.

 

Na maior parte do tempo não vemos Deus agindo. A panela de farinha realmente é usada. A botija de azeite fica vazia. Nosso futuro nos é tirado de uma forma ou de outra. Podemos ficar desprovidas de tudo o que consideramos importante. Podemos ser privadas de tudo o que dá sentido à vida. Mas, como a viúva de Sarepta, quando estamos contra a parede, não estamos sós. Podemos nos sentir sós. Porém, com fé — algumas vezes com a fé emprestada de alguém — começamos a perceber que Deus está ali. Talvez nas sombras. Mas Ele continua cuidando dos Seus.

 

O Deus que viu uma pobre viúva pagã num vilarejo costeiro chamado Sarepta também vê você e a mim. Deus a ensinou sobre Si mesmo, levando-a ao limite dela própria e de seus recursos. Com frequência Ele nos ensina a confiar mais nele quando chegamos ao limite de nós mesmas e de nossa autossuficiência.

 

Quando se acabam os recursos e ficamos contra a parede, o Deus de Elias e da viúva de Sarepta é ainda o nosso Deus. Ele está presente. Podemos confiar e não ter medo.

Um ano com as mulheres da Bíblia

Artigo retirado de trechos do livro

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