Como caminhar por fé, não por vista — Um ano com as mulheres da Bíblia

Jesus era um excelente Mestre! Ele não escolheu apenas os discípulos mais promissores; pelo contrário, incluiu homens e mulheres que outros mestres teriam ignorado. Um exemplo disso é Maria Madalena.


Embora ela seja mencionada pelo nome 14 vezes nos evangelhos, sabemos apenas quatro coisas sobre Maria Madalena.
O primeiro fato que conhecemos sobre essa mulher é que Jesus expulsou sete demônios dela. Pelo seu nome sabemos que essa Maria veio de Magdala, uma cidade a cerca de 5 km de Cafarnaum na costa noroeste do mar da Galileia, território que Jesus sempre atravessava durante o Seu ministério. Não sabemos por quanto tempo ou de que forma ela fora atormentada. Porém, uma coisa é certa: qualquer pessoa possessa era marginalizada pela sociedade. Liberta dos sete demônios, seus membros travados relaxaram. Sua face deformada tornou-se serena. Tal libertação transformou a sua vida!

 
A segunda coisa que sabemos sobre Maria é que ela viajou por toda a Galileia e até à Judeia com Jesus e os Doze. Devido à intervenção divina que sofreu, não é de surpreender que Maria Madalena tenha se tornado parte do grupo dos seguidores de Jesus.
Durante o primeiro século em Israel, alguns mestres ensinavam que os homens bons e religiosos não falavam com mulheres em público. Um fariseu não falaria nem mesmo com sua mãe se a encontrasse na rua. Nessa cultura, a cuidadosa segregação de homens e mulheres tornaria qualquer um que viajasse com grupos mistos uma pessoa contracultura para ser ouvido. Além disso, a Lei declarava que, durante seu período menstrual, a mulher era ritualmente imunda. Tudo o que ela tocava tornava-se impuro. Nesse período, ela precisava ficar separada. Como Jesus e os Doze poderiam correr o risco de se contaminarem com essas mulheres que viajavam com eles?


Os evangelhos não respondem a essa pergunta. O que sabemos é que, enquanto os inimigos de Jesus o acusavam de infringir a lei do Shabbat, de beber vinho demais e de se associar aos coletores de impostos e outros tipos de má reputação, em momento algum eles levantaram a questão sobre a imoralidade sexual. Logo, presumimos que esses homens e mulheres que viajavam juntos de alguma maneira evitavam os escândalos.


Alguns comentaristas acreditam que Maria Madalena vinha de uma família rica e, portanto, era capaz de sustentar Jesus e Seus outros seguidores. Outros conjecturam que era uma mulher prostituta. Esse mito sobre Maria Madalena começou no século 6º, quando um papa chamado Gregório a associou à mulher pecadora que ungiu os pés de Jesus com um óleo caro e perfumado. Desde então, por todos os últimos séculos, os artistas retrataram Maria Madalena como uma prostituta. No entanto, nas Escrituras não encontramos base para essa ideia.


Especulações à parte, a terceira coisa que a Bíblia relata sobre Maria é que, numa sombria sexta-feira, a da Paixão de Cristo, ela ficou perto da cruz muito tempo depois de os discípulos fugirem. Todos os quatro evangelistas registram que Maria Madalena e as outras mulheres não só ficaram durante as horas terríveis da crucificação, mas se certificaram em saber onde Jesus fora sepultado para irem ao local após o sábado e terminarem de ungir o Seu corpo. Essas mulheres estavam completamente comprometidas com Jesus Cristo, mesmo em meio ao amargo pesar que sentiam.


Por isso, não nos surpreende encontrá-las com Maria Madalena, antes do amanhecer do domingo, apressando-se para o túmulo no jardim. Aqui estavam as mulheres desempenhando seu papel habitual na sociedade judaica, preparando o corpo de um morto para um sepultamento adequado. Conforme caminhavam, tinham duas questões em mente: Quem tiraria a grande pedra da entrada do túmulo? E o que fariam ao selo posto pelo governo romano? Esse selo não podia ser violado. No entanto, estavam determinadas a fazer o melhor pelo amado Mestre. Elas, durante os três anos do Seu ministério terreno, cuidaram do bem-estar físico de Jesus. Assim, na Sua morte, não poderiam se eximir de dar-lhe um sepultamento digno.


Quando chegaram, encontraram a pedra removida. Eis a próxima lição de discipulado para Maria. As expectativas com as quais iniciara aquela manhã estavam de ponta-cabeça. Maria, vendo a pedra removida, supôs que o corpo de Jesus tinha sido levado e posto em outro lugar. Naquele momento ela só conseguia pensar em Jesus morto. Afinal, ela o vira morrer e ser colocado no túmulo. Ela esteve presente na execução do Senhor. Viu quando os pregos transpassaram as Suas mãos e pés. Presenciou a lança abrir o Seu lado, o céu escurecer ao meio-dia e um forte terremoto fender rochas e sepulturas.


Correndo para Pedro e João com a notícia de que alguém levara o corpo de Jesus, ela os acompanhou de volta ao túmulo, mas ficou do lado de fora chorando. Parada ali, os altos e baixos daquela semana vieram de uma só vez à mente de Maria. Ela sentiu novamente a dor da contradição ao se lembrar de ouvir a multidão cantar “Hosana” num dia e “Crucifiquem-no!” no outro. Agora estava devastada pelo pensamento de que o corpo de Jesus tinha sido roubado. Seus dolorosos soluços expressavam todas as esperanças frustradas e o desespero que sentia.


Maria Madalena permaneceu chorando junto à entrada do sepulcro. Então, ao olhar para dentro do túmulo foi confrontada por dois seres celestiais que questionaram a sua postura. Mas a chorosa Maria sequer ouviu uma palavra, pois continuou imersa em sua tristeza. Segundos depois disso, um homem que estava nas proximidades lhe diz as mesmas palavras que os anjos, mas o olhar de Maria fixava-se na morte de Jesus.


Somente quando o Senhor lhe chamou pelo nome, Maria foi capaz de reconhecê-lo e irromper em adoração. De repente, tudo o que estava errado, ficou certo. Aquele que havia morrido, estava vivo. O Mestre que a libertara de sete demônios estava novamente com ela. Em uma fração de segundos, essa discípula passara da tristeza à euforia: o Mestre está vivo! Agora ela tinha uma tarefa a cumprir: contar aos outros que Jesus ressuscitara.

 
Eis a quarta coisa que sabemos sobre Maria Madalena: Jesus a enviou como a primeira testemunha da ressurreição. Ele a comissionou a contar aos Seus discípulos as boas-novas.


Maria Madalena não foi a única seguidora de Jesus que necessitava de uma mudança de perspectiva. No mesmo capítulo, João fala sobre o encontro de Jesus com outro dos Seus seguidores: Tomé. Ele, além de duvidar, impôs condições para crer no Cristo ressurreto. Somente quando Jesus apareceu no meio deles e Tomé o tocou, esse discípulo o reconheceu em adoração.


Nos dois casos, Jesus fez uma aparição especial — a Maria no jardim, e a Tomé no cenáculo. Maria e Tomé achavam que Jesus estava morto. Estavam preocupados com o Jesus do passado. Somente a presença física de Jesus os convenceu do contrário. Contudo, não podiam se apegar à presença física do Mestre. Tiveram que aprender a se relacionar com o Salvador de maneira diferente.
Maria reconheceu a voz de Jesus quando Ele a chamou pelo nome e foi comissionada por Ele. A Tomé, Ele o repreendeu suavemente dizendo: Você creu porque me viu!


O nosso discipulado é este: aprender a crer tendo ou não uma evidência tangível para prosseguir em fé. Significa aprender a confiar que o nosso soberano e amoroso Deus fará o que é melhor para nós, quer Ele o faça com alguma experiência surpreendente ou em silêncio.


De que maneira Deus está agindo em sua vida? O que você aprendeu sobre a diferença que Ele faz em seu dia a dia? O que mudou em sua compreensão de quem é Deus e o que Ele está fazendo em você e por seu intermédio? Suas respostas a tais perguntas lhe dirão o formato do seu discipulado.


Mulheres e homens tem sido discípulos do Salvador há mais de 2.000 anos. Eles o seguem, o ouvem, aprendem dele, servem-no. Não temos a presença física de Jesus entre nós para ver, tocar e o ajudar como eles tiveram. Nosso desafio é vivermos por fé e não pelo que vemos (2Co 5.7). O nosso discipulado pode ser tão verdadeiro quanto o deles. Temos a Bíblia para nos orientar e a comunhão de outros cristãos para nos apoiar e corrigir.


Jesus, o Mestre dos mestres, guia cada uma de nós de maneiras diferentes para aprendermos o que precisamos saber. Não existem duas pessoas com a mesma experiência de vida. Ele nos encontra onde estivermos e trabalha conosco onde estivermos, mas sempre com o mesmo propósito. Ele quer nos levar para longe da ignorância sobre Deus ao conhecimento de um relacionamento profundo como Suas filhas. Ele nos leva de fé em fé à confiança inabalável no Deus vivo e a novas maneiras de olhar a vida e a nós mesmas.

Um ano com as mulheres da Bíblia

Artigo retirado de trechos do livro

Um ano com as mulheres da Bíblia

Artigo retirado de trechos do livro