Faz três semanas desde a última vez que entrei no meu escritório.

Na primeira semana, eu me “enquarentenei” porque estava gripada — e em tempos de COVID-19, uma gripe é um grande problema. Meus colegas ficaram aliviados por eu ter trabalhado em casa naquela semana, e fiquei aliviada porque o exame de sangue feito pelo médico deu livre dessa contaminação.

Foi na segunda e terceira semanas que o governo malaio impôs uma Ordem de Controle do Movimento (MCO). Não haveria mais pessoas ao ar livre, exceto para comprar mantimentos, comida, remédios e máscaras. Como o governo encorajou os “chefes de família” a fazê-lo, meu pai tem feito a maior parte das compras.

Não há mais comunhão de domingo à tarde depois da igreja, nem almoços durante a semana com os colegas, nem conversas com amigos, ou noites de encontro. São só meus pais, avós, irmã e eu dentro das quatro paredes da nossa casa. É trabalhar e malhar em casa.

Viver em uma casa multigeracional durante esse período traz as próprias bênçãos e seus desafios. A quarentena nos tornou criativos sobre nossas refeições, que precisamos fazer todos juntos agora por causa da escassez. Minha mãe começou a fazer pão em casa, graças a uma escassez nacional de pão, que estou experimentando com café Dalgona (café cremoso) e frango com manteiga. Ao mesmo tempo, as notícias também nos induzem dia e noite a um clima de ansiedade. Estar em contato tão próximo com minha família também significa que, às vezes, nos esbarramos da maneira errada.

Como sou introvertida, pensei que seria mais fácil para mim do que para alguns dos meus amigos. Mas com o passar dos dias, comecei a sentir falta do contato humano cada vez mais. “Nenhum homem é uma ilha” significa muito, ainda que eu me contente com chamadas de vídeo por enquanto.

Quero fazer a contagem regressiva dos dias até que as coisas voltem ao normal, mas com a possibilidade do isolamento ser estendido, sei que tenho que me adaptar a um novo normal. Sinto-me presa, restrita e triste.

É preciso esforço deliberado para encontrar coisas pelas quais agradecer, mas elas estão lá. Tenho um teto sobre minha cabeça, comida para comer para cada refeição, tecnologia, que me mantém produtiva e me ajuda a ficar conectada com outras pessoas, e um emprego estável em uma época de recessão. Claro, tive que cancelar planos de viagem e me contentar com um relacionamento temporariamente de longa distância, mas sou muito privilegiada — há companheiros malaios que tiveram que dormir em estações de trem, suportar noites sem dormir como combatentes do COVID-19, ou perder sua principal fonte de renda.

Se há algo de que eu estou convicta durante esta temporada, é a necessidade de ajudar os necessitados e vulneráveis em nossa sociedade. Em meio a um cenário de novos casos e mortes, ouvir sobre como as pessoas altruístas têm dado tudo de si para ajudar os pobres, mesmo que eles não tenham muito para si mesmos é como um bálsamo para minha alma. Essas pessoas me inspiram a encontrar formas práticas de praticar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com Deus (Miquéias 6:8).

Debra
Kuala Lumpur

Originalmente publicado no YMI que faz parte do Ministérios Pão DIário, em inglês no [https://ymi.today/letters-from-lockdown/]. Traduzido e republicado com permissão.