Há algumas semanas, uma amiga lia no prelo um devocional de Sheridan Voysey chamado Resiliente (Publicações Pão Diário, 2020). Em certo momento, Voysey fala de Nicholas Vujicic, portador de uma rara anomalia: a tetra-amelia, que consiste na ausência dos quatro membros. Aos 8 anos, Nick tentou se afogar na banheira e orava a Deus todos os dias para que seus membros crescessem. Até que um dia, ele se deparou com a história de João 9:1-9. Nick disse que aqueles versos mudaram sua vida para sempre, pois ele viu que sua deficiência poderia ser usada por Deus. Hoje, Nick realiza palestras ao redor do mundo, sendo um porta-voz da Palavra de Deus e levando milhares de vidas a se renderem aos pés da cruz de Cristo.

Minha história com o universo dos deficientes começou há muitos anos, bem antes do nascimento da minha filha Belinha, portadora de deficiência intelectual. Era o ano de 1991, e eu me mudei com a minha família de Volta Redonda para Curitiba. Começamos a frequentar a Igreja Batista de Guabirotuba. Ali, havia um maravilhoso ministério com os surdos, liderado pela irmã Edna Machado. Eu tinha apenas 13 anos e resolvi visitar um culto desse ministério. A princípio, fiquei espantada, pois nunca havia visto ninguém se comunicar de outra forma senão falando, mas o espanto logo deu lugar à fascinação, e fiquei ansiosa por falar com os surdos. Porém eu não sabia como me comunicar com eles. Ninguém me entendia. Aquilo foi a centelha que me levou a uma espécie de epifania: assim como fiquei aflita por não ser entendida, da mesma forma acontecia com eles.

Dois anos depois, comecei a trabalhar na Livraria Evangélica, que contava com um atendimento em Libras. Os surdos não precisavam se adaptar ao meio nem lutar por se fazerem entender. O meio já estava adaptado a eles. Era um lugar de pertencimento, de segurança e acessível. Assim também as igrejas precisam ser hoje: um caminho sem obstáculos para que todos “ouçam”, “vejam”, compreendam a Palavra de Deus e “corram” para ela. Todos a sua própria maneira. E isso começa com a infraestrutura.

É uma surpresa encantadora chegar a uma igreja e se deparar com intérpretes de Libras, elevador adequado que leva ao templo, rampa de acesso, assim como encontramos na Segunda Igreja Batista de Curitiba. Como é bom ver TODO o povo de Deus se achegando à comunhão dos santos!

Mas não podemos parar aí. Mais do que obras arquitetônicas, nós, Igreja de Cristo, precisamos ser rampas de acesso às verdades e maravilhas divinas e à mensagem de salvação para as pessoas com deficiências físicas e intelectual. Elas anseiam por viver nos átrios do Senhor, no meio do Seu arraial. Assim como Nick, Deus quer usá-las no nosso meio para também serem porta-vozes da Sua mensagem e exemplos da Sua glória e sabedoria.

Que as igrejas tenham um olhar mais sensível para os deficientes, que precisam ouvir a Palavra, e sejamos uma força para suas famílias, que também carecem do nosso olhar de amor. Façamos obras e A Obra em tempo e fora de tempo. Como será o mover da Palavra neles nas suas limitações é um mistério do Espírito. Mas que estejamos aqui, na Sua dispensação para trazê-los ao Trono da Graça.  

Texto de Renata Chiarelli (Executiva de Vendas em Ministérios Pão Diário) Coautoria de Dalila de Assis (Revisora, editora e tradutora em Ministérios Pão Diário)