Todos nós sabemos como somos inclinados a divagar em oração e até mesmo a fugir de Deus. Frequentemente nos distraímos. Algumas vezes nem queremos pensar nele.

Mas, ao abrir agora esse texto, você demonstra um interesse em lutar contra isso, no seu íntimo você anseia por Deus.

E é sobre isso que queremos conversar com você, sobre a intimidade com Deus, pois o desafio da oração está conectado com um relacionamento próximo com o Senhor.

 

Para compreender melhor esse desafio, é importante apresentar alguns pontos que esclarecerão nossa atual caminhada de oração. O primeiro deles é em relação às expectativas que criamos, vamos juntos decifrar o nosso coração antes do ato de orar. O segundo ponto é o processo, um tópico relevante para iniciar a caminhada. No terceiro ponto, dois mitos que têm paralisado nosso relacionamento com Deus serão explanados e por fim, a verdade a respeito da intimidade com nosso amado Pai. 

Se a oração é um desafio para todo o cristão, precisamos juntos voltar e estudar essa temática até que possamos ter uma relacionamento profundo com nosso Deus.

Expectativas

Se você está lendo esperando que a intimidade com Deus surja como uma explosão do Espírito, que lhe proporcionará um período eterno de louvor que o elevará 24 horas por dia, pelo resto da vida, com sentimentos acolhedores e um convívio tangível com o Deus Todo-Poderoso do Universo, então esta leitura será uma decepção para você. Na realidade, se essas são as esperanças e sonhos de sua alma em busca da intimidade com Deus, então acho que você nem chegará ao final do texto. 

Nosso desejo por intimidade precisa basear-se na realidade bíblica, a menos que estejamos buscando por mais do que Deus prometeu. O que Ele nos disse que podemos esperar ao buscamos essa intimidade com Ele? 

Expectativas são a base de tudo. Se esperamos que nossos cônjuges estejam em casa na hora certa para o jantar, e eles não estão; se esperamos que nossos filhos cheguem a casa cedo o suficiente para que possamos usar o carro, e eles não chegam; se esperamos que uma amizade seja prazerosa, gratificante e descomplicada, e ela não é; se esperamos receber aquele aumento, aquela gratificação, aquela promoção, e não a recebemos —nós inevitavelmente, nos sentimos desapontados, desencorajados, e finalmente nos desesperamos se a expectativa que tínhamos era grande.

Um tempo atrás, eu estava conversando com dois conselheiros espirituais. Perguntei-lhes se tivessem que fazer uma lista das raízes dos problemas pessoais mais predominantes na vida das pessoas, o que incluiriam nela?

Sem pensar, ambos exclamaram: “A amargura está no topo da lista”. Eles disseram que a amargura frequentemente está enraizada em expectativas mal definidas e no depositar uma total confiança em coisas erradas. Se a nossa expectativa é de ter uma boa vida, que as pessoas não nos usem nem manipulem, não nos ignorem nem abusem de nós ou nos entendam mal; se as nossas expectativas estão além da dimensão da realidade, então é inevitável que nossos sonhos se transformem em pesadelos.

Processo

Encontrar satisfação, apoio e segurança no nosso relacionamento com Deus é um processo. Muitos de nós ficamos desencorajados na busca por Deus porque ansiamos alcançar logo um resultado e que essa experiência esteja alinhada com nossas expectativas do que deveria acontecer.

O que podemos realisticamente esperar? A primeira tarefa na busca por intimidade com Deus é lidar com o estado de desconexão que nos mantém afastados dele. Essa é nossa responsabilidade. Deus procura corações arrependidos e radicalmente confiantes para fazer Sua morada.

O próximo passo é começar uma longa caminhada em direção a Deus sendo sempre fiel às realidades que despertam uma experiência com Sua presença plena. Mas a intimidade com Deus não deve ser definida em termos de seus elementos experimentais. Experiências são muito subjetivas, variadas e individualizadas para se poder defini-las como cenários universais de uma intimidade. Deus não lida conosco do mesmo modo — emocional, intelectual ou espiritualmente. Cada um de nós percebe as coisas de maneira única. Se definimos intimidade pelo que parece ser ou pelo que sentimos, inevitavelmente estaremos definindo como um indivíduo a vê, e desta forma gerando a decepção de outrem. Quando lemos as biografias de cristãos ou ouvimos pessoas nos contarem de seus encontros pessoais com Deus, não deveríamos limitar nossas próprias experiências para que sejam compatíveis às deles. Deus nos encontra onde estivermos e não onde o outro está. 

Embora ninguém experimente a Deus especificamente da mesma forma, todos nós chegamos a Ele usando o mesmo mapa. Realizamos o processo; Deus nos responde de uma forma individual. Na realidade, isto é o que as Escrituras nos ensinam quando nos diz para nos aproximarmos de Deus, e Ele se aproximará de nós (Tiago 4:8). Isto é um processo.

Essa busca por intimidade é um processo intencional. A busca por intimidade é um compromisso intencional de progredir rumo a Deus e, nesse processo, aprofundar nossa consciência sobre Ele, conectando-se a Ele e estando confiante unicamente nele, como sendo a única fonte de contentamento, apoio e segurança. 

A busca por intimidade com Deus requer um modo de vida que gradativamente encha minha alma de contentamento, sustento e segurança da Sua presença. A busca por intimidade é aprofundar-se na conexão com Cristo, como a fonte máxima de tudo que necessito.

Os 2 mitos sobre intimidade

MITO Nº. 1:  Intimidade trata, acima de tudo, do que Ele fará por nós, quando nos aproximarmos dele.

O processo de intimidade nunca deveria ser motivado pelo que Deus poderá fazer por nós, mas sim pelo nosso desejo de servi-lo.

Quando pensamos a respeito de intimidade, é fácil imaginá-la em termos de “O que Deus tem feito por mim ultimamente?” Tendemos a validar a Sua realidade e a medir a qualidade do nosso relacionamento com Ele pelo que Ele está fazendo por nós em determinado momento e pela frequência e intensidade de Suas intervenções em nossas vidas. Quem não supôs que a realidade de Deus e a qualidade do nosso relacionamento com Ele são medidas pelas vezes que Ele intervém em nossas vidas e que realiza algo bom e espetacular?

Quando essa é a nossa expectativa, rapidamente nos desinteressamos, nos desencorajamos e até mesmo erramos em nossa caminhada com Ele. Em minha própria vida, frequentemente me senti trapaceado. Quando ouço alguém falar a respeito da espetacular manifestação de Deus em sua vida e como Deus tem sido maravilhoso para com ele, começo a pensar por que Deus nunca faz algo semelhante por mim. 

Você alguma vez se sente anormal — espiritualmente anormal — porque Deus simplesmente não parece estar fazendo muito por você? Você já sentiu falta de autoestima espiritual, como se você não fosse tão importante para Deus? Ou já sentiu como se Ele fosse o Deus de nossos pais, mas com certeza não está atuando hoje em dia?

Acho que é por isso que muitos de nós somos seduzidos por algo que seja espiritualmente experimental. Se a receita vem disfarçada de cristandade, mesmo que seja altamente exótica, nos aproximamos dela e pensamos que Deus está fazendo algo “real” por nós. Em vez de fielmente continuarmos a dar passos constantes rumo a Deus em nossa caminhada, escolhemos esperar que as coisas caiam do Céu. É sempre mais fácil optar pela alternativa que oferece resultado imediato — toda aquela adrenalina espiritual — do que se concentrar em um processo de uma longa caminhada.

Os guardas florestais do parque de Yellowstone contam que apesar dos avisos para não alimentar os ursos, as pessoas constantemente o fazem. Consequentemente os guardas têm que resgatar ursos mortos nas florestas — em épocas quando não há turistas para os alimentarem — pois se no período de duas semanas não houver pessoas alimentando os ursos, eles morrem. E pensar que as florestas estão repletas de alimentos! Os ursos poderiam estar fazendo aquilo para que foram criados, mas, em vez disso, morrem porque dependem da comida dos turistas.

Somos como esses ursos. Deus proveu uma abundância de coisas para nos alimentarmos se estivermos na caminhada em Sua direção através da oração, leitura da Bíblia, convívio com outros cristãos e praticando os mandamentos das Escrituras. Se formos fiéis, nenhum de nós morrerá de fome. Na realidade, nossa fome espiritual deveria guiar-nos para buscarmos mais das boas coisas de Deus. Ele nos chama para sermos alimentados e nutridos por Ele em nosso íntimo, e ainda assim, continuamos a buscar por manifestações rápidas e fáceis da Sua presença. Fico pensando se no Céu existe uma placa escrita: “Não alimente os Cristãos!”. Intimidade não significa receber coisas de “mão beijada”, ela é caracterizada por uma fidelidade constante.

MITO Nº. 2:  Podemos experimentar a intimidade sem entregar toda nossa vida a Ele.

A experiência da verdadeira intimidade com Deus não requer perfeição, mas sim, que estejamos totalmente sujeitos a Ele. Uma total entrega significa que vivemos com uma atitude de obediência ilimitada. Embora possamos falhar, ter uma resposta imediata de arrependimento que impeça que fiquemos aprisionados em nossos erros nos manterá no caminho rumo a Ele.

Devemos amar o Senhor nosso Deus de todo o nosso coração, e de toda a nossa alma, e de todas as nossas forças (veja Deuteronômio 6:5; Mateus 22:37; Marcos 12:30). As cartas, inspiradas pelo Espírito Santo e dirigidas às igrejas nos primeiros capítulos do livro de Apocalipse, revelam que foram os pecados não confessados e as falhas constantes, que prejudicaram seu relacionamento com Cristo. 

Não podemos esperar intimidade quando vivemos como a pessoa que diz:

Gostaria de comprar o equivalente a três reais de Deus. Por favor, não o bastante para fazer explodir minha alma ou atrapalhar o meu sono, mas só o equivalente a um copo de leite quente ou a uma soneca ao sol. Não quero uma quantidade dele que me faça amar um homem negro ou colher beterrabas com um imigrante. Quero êxtase, não transformação. Quero o calor do útero, mas não um novo nascimento. Quero um punhado do eterno numa sacola de papel. Gostaria de comprar o equivalente a três reais de Deus, por favor.

A verdadeira intimidade

Quando Deus pensa em intimidade, Ele pensa em um relacionamento de coração a coração conosco. Somos como crianças com seus pedidos de Natal: “Quero o presente!”, e esquecemos que é por amor que nossos pais nos presenteiam. É claro que nossos pais amam nos dar e abençoar com presentes, mas o que realmente eles desejam é um relacionamento de amor. Intimidade significa um relacionamento, não uma troca de presentes. Quando vivemos esperançosos, servindo-o genuinamente, diminuímos nosso ritmo de vida e passamos momentos de joelhos com Sua Palavra, em oração e meditação. Ele preenche nossas almas com Ele mesmo.

Deus não nos encontra no shopping center. Ele nos busca no íntimo de nossos corações. Se é intimidade o que desejamos, precisamos estar mais fascinados com o doador do que com os presentes. Não é o que Ele faz por nós que devemos amar; mas sim Ele mesmo. Se quisermos experimentar Deus mais do que o fazemos, devemos amá-lo mais do que o amamos agora — mais do que todas aquelas outras coisas pelas quais somos atraídos; mais do que todas as coisas que esperamos dele.

As Escrituras, do Antigo ao Novo Testamento, tratam do projeto pessoal de Deus, de restaurar o convívio e um relacionamento gratificante que satisfaça os desejos de nossas almas e o glorifique. Para alcançarmos com sucesso essa intimidade, devemos não somente substituir as expectativas errôneas ou desequilibradas por verdadeiras, mas também que nos perguntemos: O que devemos esperar? 

Podemos esperar a garantia que Deus prometeu nos suprir em nosso relacionamento com Ele. As Escrituras sugerem que alcançaremos pelo menos três resultados como frutos de um aprofundamento de nossa relação pessoal com Deus: (1) Ele satisfará nossas almas; (2) Ele sustentará nossa vida; e (3) Ele nos protegerá mesmo diante de grandes perigos.

Em nenhum outro lugar esses resultados são tão bem definidos e demonstrados do que no conhecido Salmo de Davi, o Salmo 23. Vamos examinar este salmo um pouco:

O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. Ele me faz repousar em verdes pastos e me leva para junto de riachos tranquilos. Renova minhas forças e me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome. Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado. Tua vara e teu cajado me protegem. Preparas um banquete para mim na presença de meus inimigos. Unges minha cabeça com óleo; meu cálice transborda. Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.

Observe a dinâmica desse relacionamento. Não é entre partes iguais; é entre um Pastor e a Sua ovelha. As ovelhas são extremamente dependentes de seu pastor. Ovelhas não encontram o caminho de volta para casa sozinhas! Elas precisam de um pastor para as guiar, prover e proteger. Um pastor atende constantemente as suas ovelhas — algumas vezes à custa de grande sacrifício pessoal. 

Qual é o papel do pastor? O pastor é uma fonte de contentamento para a ovelha. Precisamos esquecer as nossas listas de exigências e desejos e nos concentrarmos no que realmente necessitamos. O verdadeiro teste de satisfação é ser capaz de dizer como o salmista: “Nada me faltará”. Contentamento não significa que não desejaremos outras coisas ou relacionamentos melhores. Significa que esses desejos não governam nossa vida. Significa que permitimos que Deus seja o nosso provedor e nos contentamos com Ele. O salmista expressa isso da seguinte forma: “Ele me faz repousar em verdes pastos e me leva para junto de riachos tranquilos. Renova minhas forças”. Note que os elementos da satisfação são: provisão, paz e refrigério.

Sabemos que a intimidade está alcançando seus resultados quando podemos dizer como Davi, “O Senhor é meu pastor, e nada me faltará”. Quando podemos dizer honestamente que realmente não precisamos de coisas adicionais para nos satisfazer, sustentar e proteger, então saberemos que estamos bem próximos de nos conectarmos intimamente com Deus, que nos oferece tudo de si.

Orar com sinceridade é fundamental. O salmista nunca teve vergonha de “ficar diante de Deus” em relação à sua vida. Essa sinceridade abre os nossos espíritos para que Ele possa resolver as nossas frustrações. Nenhum dos salmos termina com o salmista malogrado com a vida ou com Deus. A oração nos faz ver, de forma maravilhosa, o ponto de vista de Deus.

Fazer de fato uma leitura bíblica. Devo começar lendo a Palavra como se fosse um encontro pessoal com Deus. Para mim, não deve ser apenas algo mecânico como ler a Bíblia em um ano, ou um capítulo por dia, ou seja qual for o sistema que eu estiver adotando. Conectar-me com Deus através das Escrituras é exatamente isso — conectar-se pessoalmente com Deus. Cada encontro deve buscar algo que venha dele e que seja relevante à minha vida. Sinto que devo ler até que Ele tenha falado comigo de forma substancial. Se vier logo no começo talvez, eu não tenha que continuar lendo, embora eu possa querer continuar. E se levar mais tempo do que planejei, devo continuar lendo até que Ele tenha ministrado à minha alma, coração e mente.

O mais importante: é fundamental perseverar. Haverá momentos quando esse exercício parecerá menos alegre do que esperávamos ou antecipamos. Não abandone o processo. Fidelidade é o segredo. Persevere e a sua conexão com Deus se fortalecerá. A sua recompensa será a intimidade com Ele.

“Orar, orar e continuar orando, até começar a orar de verdade”. W. Tozer

 

E aí, vamos investir numa vida de intimidade com Deus através da oração? O desafio de todo o cristão permanece para toda a vida.