Bem-vindo ao Descobrindo a Palavra do mês de janeiro. O tópico deste mês é sobre adoração. Hoje, pelo menos em nosso contexto, a questão da adoração tem causado bastante divisão. Penso que todos nós estamos familiarizados com as diferentes formas de adoração e louvor que surgiram nas décadas de 70 e 80. A cultura musical já tinha sofrido algumas mudanças nos anos 50 e 60, e aquele estilo musical ao qual as pessoas estavam habituadas já vinha sendo adaptado nas igrejas. Muitos percebiam que se fosse possível cantar letras que se relacionassem mais com as pessoas, novos grupos poderiam ser alcançados. Esse pensamento originou o que temos hoje: mega igrejas, igrejas com mais de mil ou 2 mil pessoas. Hoje em dia, algumas delas chegam a atingir 20 mil pessoas.

Será que realmente foi bom a igreja ter enfrentado esses questionamentos nas décadas de 70 e 80? Será que devíamos ter parado de cantar os hinos antigos e começado a cantar as novas canções de louvor? Entre essas novas canções de louvor muitas eram bem mais animadas! Muitas igrejas que começaram a adotar esse novo estilo de música passaram a ter a música de coral e as equipes de louvor. Algumas tentaram continuar com essas duas formas de louvor. Tinham um coral e uma equipe de louvor no palco à sua frente. Isso não funcionou muito bem e não durou por muito tempo. Mas, nessa época, surgiram novos instrumentos e eles começaram a aparecer nas igrejas que tentavam estabelecer esse novo estilo de culto. Passamos do órgão e piano aos violões, guitarras acústicas, solo, baixo e até mesmo, muitas vezes, um conjunto de baterias. Muitas pessoas ficaram perturbadas com tanta mudança, uns gostaram, outros não. Nessa altura, muitas igrejas começaram a se dividir. Seguiam seus caminhos diferentes dizendo que continuariam a cantar os hinos mais tradicionais. Alguns decidiram continuar a cantar os cânticos de louvor e outros a tentar louvar com os dois estilos diferentes: com hinos tradicionais e com os cânticos mais atualizados para a época que viviam.

Bem, essas diferenças sobre como louvar nos anos 70 e 80 acabaram por dar lugar aos anos 90. E houve outro movimento desse tipo que veio desafiar a nossa compreensão do que era o culto ou o que é o culto, e esse foi um movimento eclesiástico emergente. Esse movimento enfatizava, em particular, a espiritualidade e a adoração como dois dos seus pontos principais. Todavia, ainda tinha que lidar com outras questões. No entanto, como essas questões estavam relacionadas com o tipo de espiritualidade, na época, houve o desejo de dizer: voltemos à prática das disciplinas espirituais da oração, da solitude, peregrinação e coisas dessa natureza. As pessoas queriam realmente conectar-se mais à história da igreja em si, não apenas aos anos 1900, mas sim, voltando à Reforma protestante, ao período medieval e até mesmo aos primeiros anos do cristianismo quando este teve o seu início.

A outra parte desse tipo de pessoas, que se ligou com a parte da espiritualidade cristã teve uma abordagem mais histórica à adoração. Diante disso, eles disseram que não só precisávamos cantar canções de natureza mais ou menos contemporânea, como precisávamos mesclá-las com algumas práticas antigas, leitura de credos e confissões. No entanto, dentro de muitas tradições protestantes, católicas e ortodoxas, as pessoas já praticavam uma liturgia. Mas era uma liturgia mais dinâmica, que mudava de domingo a domingo. Num culto dominical, eles recitavam juntos o Credo Apostólico ou o Credo Niceno. Talvez você seja parte de uma igreja que ainda faz isso, ou todos recitavam juntos uma oração. Portanto, havia uma espécie de liturgia que estava mudando a dinâmica do louvor: algo que era contemporâneo, mesclado com alguns desses novos cânticos.

Bem, à medida que se entra no início dos anos 2000, esse movimento meio que se extinguiu. Na realidade, transformou-se noutra coisa, mas, na sua maior parte, extinguiu-se. Não falamos realmente da igreja emergente, mas as igrejas começaram a ver o que tinha acontecido nos anos 70 e 80 e o que experimentaram nos anos 90, e na medida em que chegamos ao ano 2010, ou um pouco antes disso, as igrejas começaram a fazer algumas coisas bastante únicas para alcançar pessoas através do louvor, para lhes satisfazer suas necessidades e levar-lhes o evangelho. Na verdade, no início dos anos 2000, ouvi falar de uma igreja que comprou um centro comercial e provavelmente pagou muito caro por esse local em desuso. E como você sabe, a maioria dos centros comerciais tem as pequenas lojas no centro e as lojas maiores de departamentos nas suas extremidades. 

Bem, eles compraram o tal centro comercial e decidiram que iriam criar uma experiência eclesiástica diferente de tudo o que tinha acontecido antes. Transformaram as lojas menores em ministérios infantis e salas de aula para crianças, e algumas em espaços de escritório. Mas sobre as lojas maiores nas extremidades, decidiram que deixariam as pessoas entrar e elas poderiam decidir sobre o culto que quisessem assistir, sobre o estilo adequado às suas necessidades. Assim, se a pessoa gostasse mais do tipo country e gostasse de vestir botas, camisa xadrez, jeans, cintos de fivela grande e chapéu texano, poderia ir ao culto onde as canções de louvor fossem do tipo country gospel. Se quisesse o hip hop, tinha um culto com louvores de hip hop e street dance. Se quisesse apenas o estilo tradicional ou qualquer outro, eles o criariam para agradar as preferências. E a sensação era a mesma de ter ido a um centro comercial, exceto que, em vez de fazer compras, a pessoa selecionava o seu estilo de culto.

E outros grupos surgiram e fizeram coisas diferentes porém semelhantes. Lembro-me de que poucos anos atrás fui a uma igreja dessas que tivemos por aqui em Grand Rapids, Michigan, EUA. Eu as chamo de “igreja das pipocas”, porque quando você entra, a maneira de receberem as pessoas, era lhes dizer que tudo estava bem, que entrassem e encontrariam algo que lhes agradaria. Você se servia de refrigerante e pipocas e entrava no culto, sentava-se e eles começavam a cantar enquanto comíamos as pipocas e nos divertíamos um pouco. Bem, após cerca de 15 minutos de música, anunciavam que haveria um intervalo. Achei isso um pouco estranho, apenas 15 minutos, mas logo disseram que depois do intervalo seria apresentado o tema do culto daquela manhã.

Bem, o intervalo era realmente para buscar mais pipocas, voltar e sentar-se no seu lugar. E quando fôssemos voltar, eles apresentariam a música de louvor contemporâneo, mas a canção era muito contemporânea. Na verdade, nem sequer era cristã, e apresentava o tema sobre o qual seria a mensagem. O tema daquele dia em particular era sobre a doutrina do inferno e eles começaram com um batidão. Eu fiquei espantado como era a interpretação absolutamente perfeita da canção “Estrada para o inferno” do grupo AC/DC. Eles a cantaram muito bem, a música era perfeita. Era exatamente como se estivéssemos num concerto. E a ideia deles era chegar ao público com uma canção que provavelmente conheciam e de alguma forma pegar a atenção nessa canção e depois falar sobre um tópico a que a canção se referia.

E era interessante observar as pessoas enquanto paravam de comer as suas pipocas ou as seguravam numa mão. Quase todos os que tinham entre 40 ou 50 anos seguravam os seus isqueiros na congregação como se estivessem num concerto com AC/DC. Não tenho a certeza se teve realmente o efeito que eles queriam que tivesse, mas definitivamente causou impacto nas pessoas que lá estavam. Assim, descobrimos como a adoração tem sido feita de várias maneiras. Desde os anos 70 e 80 até aos anos 90 e mesmo até os dias de hoje, as Igrejas estão tentando coisas diferentes para atrair as pessoas

Na verdade, há um grupo chamado Pórtico de Salomão. Há vários anos, eles decidiram criar a sua experiência e ambiente de culto mais parecido com uma de sala de estar. Por isso, quando se entrava no culto, não havia bancos nem cadeiras. Na verdade, eles criavam pequenas áreas no local onde era possível adorar: áreas com luzes, cadeiras e sofás confortáveis. Ao entrar, as pessoas podiam, relaxar e apreciar a música. Podíamos assistir e apreciar o culto e era quase como estar na nossa própria sala de estar. Claro, que eu pensava: Por que não fico na minha própria sala de estar em vez de ir até lá? Eu sabia que se me sentasse em algum daqueles sofás, provavelmente adormeceria.

Mas essa é a forma como a igreja tem lidado com o culto. Lutamos, pelo menos dentro do contexto norte-americano, sobre o que significa adorar e em especial sobre o estilo de adoração. Mas podemos nos perguntar, se não haverá uma questão mais profunda que possamos abordar. Não podemos apenas perguntar, o que realmente significa encontrar o Deus vivo? Não apenas sobre o estilo e não sobre o tipo de canções que se canta, ou que ordem se canta, ou se se cantam quatro canções, com uma oração e depois há um sermão. Mas é mais sobre o que significa adorar o Senhor? É esse tipo de enfoque que queremos abordar este mês.

Por isso, há pessoas que vão falar sobre isso. E ao responder a essa pergunta em particular, alguns dirão, bem, eu acho que o culto a Deus é sobre [inaudível 00:08:32] o ajuntamento do povo de Deus. Também é o culto que prestamos quando nos reunimos; são as canções, são as orações, são as confissões ou os credos que podemos ler e é também o sermão. E as pessoas podem arrancar um versículo da carta aos Hebreus, capítulo 10, e nós estamos até familiarizados com esse versículo. Diz: “Apeguemo-nos firmemente, sem vacilar, à esperança que professamos, porque Deus é fiel para cumprir sua promessa”. Ele disse: “Pensemos em como motivar uns aos outros na prática do amor e das boas obras. E não deixemos de nos reunir” (vv.23-25).

Muitos dizem que isso se refere à reunião de culto e adoração. Precisamos de nos reunir, e isso tem de ser um momento de encorajamento. Precisa ser um momento em que adoremos, oremos e em que estudemos. Tudo o que fazemos quando nos reunimos no domingo de manhã ou no domingo à noite, ou sempre que nos reunimos, é uma forma de culto. Agora outros diriam, bem, há algo mais do que isso? Querem concentrar-se mais na parte do louvor, não incluem a parte do ensino, apenas incluem os cânticos. Esse culto é realmente um culto de cânticos ao Senhor. E eles podem utilizar-se dos versículos de Salmo 96:1-2, onde diz simplesmente: “Cantem ao SENHOR um cântico novo! Toda a terra cante ao Senhor! Cantem ao SENHOR e louvem o seu nome…”. Dizem que ali que temos os louvores, o momento em que nos reunimos e cantamos hinos ou cânticos ou o que quer que seja. Dizem que devemos cantar para Ele e que realmente esse é o significado da adoração. A oração tem a sua área e o ensino tem o seu enfoque, mas não vamos confundir os dois. Fiquemos simplesmente com a adoração como cânticos para o Senhor.

Entretanto, outros têm uma abordagem diferente. Alguns diriam: “Bem, trata-se de algo mais do que simplesmente apenas nos reunirmos. Trata-se realmente de entrar no mundo que Deus criou — quer cantemos, oremos ou ensinemos. Trata-se de caminhar na natureza. Trata-se de elevar a nossa mente até Deus e dizer: ‘Senhor, vejo o que criastes à minha volta, a complexidade do mundo, a sintonia fina do nosso Universo’”. E diriam que a adoração se trata disso. Essa experiência muito pessoal de realmente reconhecer o trabalho artesanal de Deus ao nos criar e ao criar o mundo em que vivemos.

E o Salmo 19 talvez um versículo ao qual se reportariam. Diz: “Os céus proclamam a glória de Deus o firmamento demonstra a habilidade de suas mãos; Dia após dia, eles continuam a falar; noite após noite, eles o tornam conhecido” (vv.1-2). Eles diriam que, olhando para o mundo à nossa volta, isso comprova a grandeza do nosso Deus. E que a adoração ocorre realmente quando meditamos sobre isso e fazemos essa ligação e o adoramos com a nossa mente. Podemos adorar em comunhão com outras pessoas, mas esse tempo individual é muito, muito importante.

Além disso, outros podem apenas dizer, são todas estas coisas. Não é uma ou outra. Não se trata de orar, cantar ou ensinar. São as três coisas quando nos reunimos. Trata-se de caminhar e reconhecer o que Deus tem feito. Trata-se de cumprir o ministério em geral. É sobre os nossos trabalhos. Faz parte do nosso culto quando chegamos aos nossos locais de trabalho e usamos os talentos e habilidades que desenvolvemos ao longo da nossa vida para uma vocação particular. É como vivemos realmente o nosso dia a dia. É o testemunho que damos ao mundo que nos rodeia. Tudo na nossa vida tem a ver com a adoração.

E podem utilizar um versículo como Mateus 22:36-39, onde Jesus é confrontado por um escriba que pergunta: “Qual é mandamento mais importante…?”. E Jesus responde: “Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de toda a sua mente’. Este é o primeiro e o maior mandamento. O segundo é igualmente importante: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’”. E realmente essa ideia é uma espécie de amor ao Senhor Deus que exige cada pedaço do seu ser. Seja o que você pensa, seja o que faz para viver, em tudo na vida você precisa amar o Senhor Deus, e a adoração significa expressar o nosso amor e a nossa gratidão a Ele.

Mesmo em Romanos 12:1, Paulo diz: “Portanto, irmãos, suplico-lhes que entreguem seu corpo a Deus, por causa de tudo que ele fez por vocês. Que seja um sacrifício vivo e santo, do tipo que Deus considera agradável. Essa é a verdadeira forma de adorá-lo”. Essa ideia de entregar os nossos corpos tem a ver com a entrega da nossa vida. Entregar tudo de nós, não se trata de nos oferecermos literalmente como um sacrifício, mas de dizer ao Senhor que a nossa vida pertence a Ele. Já não me pertence mais. E Paulo fala mais sobre isso em alguns dos seus outros escritos. 

No evangelho de João capítulo 4, Jesus, na conversa dele com a senhora no poço, diz que a adoração não é uma tradição em si mesma. Não se trata de um local, quer se pratique a adoração nesta ou naquela montanha. Jesus diz que a adoração envolve realmente a adoração em espírito e em verdade. A adoração tem a ver com o coração. Tem a ver com a nossa conexão com Deus em tudo o que somos e em tudo o que fazemos.

Assim, qualquer que seja a sua compreensão de como a adoração deve ser, esperamos que os textos deste mês, retirados de uma série de textos sobre os Salmos, que os quatro excelentes textos devocionais os encorajem. Mas eles também o ajudarão a meditar mais profundamente sobre o tema da adoração. Esperamos que o Senhor os abençoe enquanto se empenharem neste aspecto muito importante da vida cristã. 

Que o Senhor os abençoe!

David Frees